O jogo desta terça-feira, 21 de fevereiro, pela décima rodada do Campeonato Paulista 2023, em Sorocaba, contra o São Bento, foi o 100º jogo do SPFC desde o retorno de Rogério Ceni ao comando da equipe, em outubro de 2021. Tendo completado um ano e quatro meses à frente da equipe Tricolor, Rogério é no momento o terceiro treinador com maior longevidade no cargo no futebol brasileiro, atrás apenas de Abel Ferreira (Palmeiras, dois anos e três meses) e Juan Pablo Vojvoda (Fortaleza, um ano e nove meses).
O trabalho do técnico São-Paulino, entretanto, vem sendo muito criticado por parte da torcida, principalmente por meio das mídias sociais. Um coro forte pedindo a demissão de Ceni é ouvido todos os dias, mesmo após as vitórias, nos diferentes fóruns de torcedores no ambiente digital. Minha experiência no Morumbi, porém, é que os torcedores que frequentam o estádio ainda apoiam, ainda que timidamente, o trabalho do treinador.
Eu defendo a permanência de Rogério Ceni no comando do time do São Paulo até o final do seu contrato, no dia 31 de dezembro deste ano. Nos próximos parágrafos vou justificar essa minha posição.
Desde o nosso último título internacional, a Copa Sul-Americana de 2012, o São Paulo Futebol Clube já realizou 24 mudanças de treinador. A lista de todos os técnicos encontra-se na tabela abaixo:
Uma rápida passada de olhos na tabela acima já mostra uma frequência grande de comandos interinos, o que reflete uma recorrente falta de planejamento nos processos de substituição de treinador. Poucos foram os casos em que o início de trabalho do técnico coincide com o início da temporada e, entre esses, nenhum chegou ao final do ano no cargo. Entre toda a lista, apenas Muricy, Diniz, e Rogério tiveram a oportunidade de comandar o time por uma temporada completa.
Vejamos alguns fatos quantitativos referentes às trocas de treinador nos últimos 11 anos:
Grande parte das substituições de técnicos realizadas pelo São Paulo no período do estudo foi em resposta a pressões da torcida. Entre as exceções tivemos os casos de Osório e Bauza, ambos estrangeiros, que deixaram o Tricolor para atender a convites de seleções nacionais (Osório no México e Bauza na Argentina), e o pedido de demissão de Cuca em 2019, com menos de seis meses no cargo, por problemas pessoais.
A arquibancada do Morumbi, assim como as redes sociais, foi muito cruel com quase todos os ocupantes do posto de treinador do SPFC. Ney Franco, campeão da Sul-Americana 2012, recebeu o apelido de “Ney Fraco”, mesmo tendo a melhor média de gols marcados por jogo da série analisada. Sem nenhum respeito com o histórico dos profissionais, até o nosso comandante Tri-Hexa Brasileiro, Muricy Ramalho, ouviu gritos de “Burricy” em mais de uma oportunidade, mesmo tendo obtido um aproveitamento de 60% dos pontos em 111 jogos à frente do time entre 2013 e 2015. Paulo Autuori, campeão Mundial de 2005, foi demitido em 2013 após menos de dois meses de trabalho, pois o time corria risco real de rebaixamento no Campeonato Brasileiro.
Aos olhos do torcedor, Aguirre, Bauza, Doriva e Mancini eram retranqueiros. “Professor Pardal” da vez, Rogério tem nessa classificação a companhia de Ricardo Gomes, Dorival Junior, Crespo e, principalmente, de Fernando Diniz.
Vagner Mancini foi contratado para ser Coordenador, assumiu como treinador interino e levou um time jovem do SPFC à final do Paulista 2019, para então ceder seu assento no banco de reservas a Cuca, que perdeu a decisão.
A diretoria, ao longo dos anos, nunca demonstrou qualquer consistência no perfil ideal de treinador para a equipe do São Paulo. Desconsiderando os interinos, entre os 14 técnicos efetivos contratados pela diretoria Tricolor tivemos veteranos com carreira consolidada, como Muricy, Paulo Autuori, Cuca e Dorival Júnior, mas também treinadores iniciantes na profissão, como André Jardine, Ceni (temporada 2017) e Doriva. Foram 4 estrangeiros, Bauza, Osório, Aguirre e Crespo, alternando o comando com 10 brasileiros, além dos interinos. Ney Franco e Fernando Diniz tinham histórico de comandar equipes de menor investimento, e dirigir o São Paulo foi um grande salto em suas carreiras. Em resumo, definitivamente não existiu um critério definido para a seleção de técnico do SPFC ao longo do período avaliado.
Quando avaliamos o desempenho dos treinadores efetivos, temos o seguinte quadro:
Com a vitória sobre o São Bento (0 x 3), Rogério Ceni, no seu atual período à frente do São Paulo, consolidou-se como o treinador com o quarto melhor aproveitamento de pontos nos últimos 11 anos, atrás apenas de Muricy Ramalho, Ney Franco e Aguirre. Completados 100 jogos, apresenta aproveitamento médio de 56% dos pontos disputados, e médias de 1,50 e 1,04, respectivamente para gols marcados e sofridos. O aproveitamento de Rogério, ligeiramente superior ao de Diniz e Crespo, é ainda 3 pontos percentuais superior à média de todos os treinadores que estiveram no SPFC no período.
Dedicando atenção à última coluna da tabela acima, vemos que o desempenho dos diferentes treinadores não apresenta grande variação entre si, pelo menos entre aqueles que conseguiram completar 40 partidas ou mais dirigindo a equipe.
Concluindo, minha interpretação dos dados acima é que a mudança de treinador não resolve nossos problemas, cria mais um passivo com o pagamento da multa rescisória, e interrompe um trabalho de desenvolvimento da equipe durante a temporada. Por todos esses motivos, defendo a permanência de Rogério Ceni até o final deste ano, e que, finalizada a temporada, coincidente com o final de mandato de Julio Casares, o próximo presidente do Clube selecione o treinador para 2024.
A falta de títulos de maior relevância em todo o longo período considerado, no qual conquistamos apenas um Campeonato Paulista, não é culpa dos treinadores, nem dos atletas, mas de decisões equivocadas da alta administração do clube, que não soube aplicar com eficiência os elevados valores investidos no futebol do São Paulo.
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remarkable.
Gosto de avaliações baseadas em números, mas tem que ter muito cuidado com os vieses.
O quadro acima, com a “foto” do aproveitamento, pode mudar bastante em uma ou duas rodadas, dado o tamanho reduzido da amostra.
Se tivesse tirado essa “foto” antes da sequência de adversários frágeis, o Rogério não estaria tão bem. Ademais, a amostra do Ceni está com mais jogos de campeonatos paulistas que de outros técnicos.
O Muricy, por exemplo, teve alto aproveitamento no Brasileirão, torneio em que o Ceni vem apanhando muito.
O Crespo com menos tempo no cargo e menos reforços contratados, venceu o Paulistão e, na pequena amostra, ainda apresenta desempenho semelhante ao do Ceni.
Diniz, também com aproveitamento parecido ao do Ceni, teve desempenho melhor em campeonato mais difícil (Brasileirão), não recebeu nenhum reforço, utilizou muitos jovens da base e perdeu o Antony no início da temporada.
E se for considerar outros elementos além do aproveitamento, dessa lista apresentada, Ceni é o técnico que mais reforços recebeu, não ganhou nenhum título, expôs o time ao risco de rebaixamento, critica o elenco para justificar derrotas e forçou a saída de atletas titulares.
Obrigado, Humberto.
Todas as questões técnicas que você levantou estão corretas.
Após 24 mudanças de treinador, sem nenhuma conquista relevante, minha visão é que o problema está acima dos técnicos, na alta gestão do Clube.
Análise perfeita. O problema recorrente do SPFC não está no(s) treinador(es), mas acima dele(s). Ceni é só a bola da vez.
Obrigado, Caetano.
Esse é o ponto.
Os dados são apenas para embasar essa afirmação: o problema não está no(s) treinador(es).
Concordo. Trocar por trocar não vai melhorar o desempenho do time. Eu penso que o Rogério tem boas ideias para montar taticamente um time de futebol, especialmente se levarmos em conta que a maioria dos jogadores do atual elenco são de nível mediano. A crítica que eu faço ao Rogerio diz respeito a sua postura como líder. Vendo de fora, me parece que ele privilegia alguns em detrimento de outros, o que não é atitude saudável para qualquer líder. A liderança de um grupo tem que estar isenta de paixões, de sinergia. Qualquer coach sabe que líder positivo tem que, necessariamente, manter bom relacionamento com todo o grupo, independentemente da origem dos comandados, se foram ou não indicados por ele.
É isso Waldir, Rogério tem defeitos e tem qualidades. Qualquer um que venha substituí-lo terá outros defeitos e outras qualidades.
No final, o desempenho do time é muito parecido independente de quem esteja no comando.
Obrigado pelo comentário.