Em 31 de dezembro de 2024 terminou o primeiro ano do segundo mandato do presidente Julio Casares no comando do São Paulo Futebol Clube. Vamos avaliar neste texto como foram os resultados do futebol do Tricolor nos quatro anos de sua administração. Durante todo o período, a Diretoria Institucional de Futebol foi ocupada pelo Conselheiro Carlos Belmonte.
Julio Casares assumiu seu mandato no dia 1º de janeiro de 2021, recebendo o time na liderança do Campeonato Brasileiro 2020, com sete pontos de vantagem para o segundo colocado, e faltando apenas 11 rodadas para o encerramento do torneio. Não seria exagero dizer, naquele momento, que o Tricolor estava com “uma mão na taça”. No dia 08 de dezembro de 2024, o Tricolor encerrou a sua participação na temporada 2024, terminando o Brasileirão na sexta colocação. Os resultados obtidos no intervalo de 1.437 dias entre essas datas serão o tema dos próximos parágrafos.
Campanha de altos e baixos
A única constante do desempenho sob a gestão Casares / Belmonte é a inconstância.
O desempenho do time foi altamente oscilante no período. A figura abaixo representa a média dos pontos conquistados a cada 5 jogos consecutivos, e sua evolução ao longo dos 48 meses de mandato.
Figura 1 – Aproveitamento % dos pontos – média móvel dos últimos 5 jogos disputados
Nos quatro anos sob gestão de Julio Casares, o perfil da curva é parecido, registrando o pico de desempenho no primeiro semestre, fase em que o Tricolor enfrenta os fracos times do interior Paulista e equipes menos qualificadas das Copas, e mostrando dificuldades e muita oscilação no segundo semestre, quando tem pela frente os times do Campeonato Brasileiro da série A e as fases decisivas dos torneios da CONMEBOL e da Copa do Brasil. Em 2024, sob o comando de Zubeldía, essas oscilações vinham sendo de menor amplitude, porém, a péssima campanha nas cinco rodadas finais do Campeonato Brasileiro puxaram os números para baixo
Este resultado mostra o inverso do que se poderia desejar de uma equipe competitiva de qualquer modalidade esportiva. A ciência no esporte é utilizada para fazer com que atletas e equipes alcancem o máximo de rendimento nas fases decisivas de cada temporada. No SPFC destes quatro últimos anos, entretanto, o ápice vem na primeira metade da temporada, com o declínio chegando quando o time passa a enfrentar os adversários mais qualificados.
O perfil da curva, ao longo dos anos da gestão Casares / Belmonte, é explicado em parte pelas prioridades definidas pela diretoria, que concentrou esforços na disputa do Estadual e das Copas, relegando a um segundo plano a campanha no Campeonato Brasileiro.
Batendo nos pequenos, sofrendo contra os grandes
O São Paulo sob a atual direção já disputou 297 jogos, consideradas todas as competições das quais a equipe participou, com aproveitamento geral de 54% dos pontos disputados. Os resultados obtidos estão apresentados na tabela abaixo.
Figura 2 – Desempenho geral do período 2021 a 2024
Enfrentando times de série A do Campeonato Brasileiro, em todas as competições (Brasileiro, Copa do Brasil, Estadual e torneios da CONMEBOL), o SPFC conquistou apenas 47% dos pontos disputados no período, e após 210 jogos o saldo foi de apenas 18 gols positivos. Contra equipes de Série A cedemos mais pontos do que conquistamos. Muito pouco para um dos times entre as maiores folhas de pagamento do país.
Por outro lado, quando enfrentou as equipes menos qualificadas do Campeonato Paulista, ou os times semiamadores das fases iniciais da Copa do Brasil e da Sul-Americana, o Tricolor não decepcionou, e nos 87 jogos que fez conquistou 72% dos pontos em disputa, e acumulou um saldo positivo de 111 gols.
Avaliando em termos das diferentes competições disputadas pelo Tricolor, o que se observou nesse período foi um desempenho muito superior nas Copas e no Campeonato Estadual, em comparação ao desempenho do time no Campeonato Brasileiro por pontos corridos. Esse resultado é consequência de uma prioridade definida pela diretoria, que discutiremos à frente.
Campeonato Estadual, Copas e Brasileirão
Abaixo o quadro com os resultados obtidos nas diferentes competições do período:
Figura 3 – Quadro de resultados anos 2021 a 2024
Campeonato Paulista
O foco no Campeonato Paulista, prioridade do primeiro semestre nos quatro anos cobertos por esta análise, resultou em duas finais disputadas e um título que o Clube não conquistava desde 2005. Como torcedor, obviamente, comemorei o título Paulista de 2021, ainda mais por ter sido conquistado contra um tradicional rival da Capital, mas, como analista, reconheço que os Estaduais não têm mais a relevância que tinham até os anos 1990. A derrota na final de 2022, sofrendo uma goleada em Palestra Itália, deixou um gosto amargo na torcida que tinha esperanças de ver o São Paulo novamente enfrentando seus maiores adversários de igual para igual. As eliminações nas quartas de final de 2023 e 2024, respectivamente para Água Santa e Novorizontino, mostram o potencial de surpresas (zebras?) associado às Copas.
Em 2021, ano de calendário atípico do futebol, o esforço que levou à conquista do Estadual teve como reflexo um desgaste do time, e um péssimo começo no Brasileiro daquele ano, resultando em toda uma temporada lutando contra o rebaixamento. O poster na parede poderia ter custado muito caro ao Tricolor.
Copa do Brasil e Supercopa Rei
Na Copa do Brasil o time apresentou boas campanhas, com o ápice na conquista do título inédito em 2023. Em 2021 foi eliminado pelo Fortaleza nas quartas de final, atingindo o objetivo da diretoria, e em 2022 superou a expectativa, e a meta do planejamento, ao disputar a semifinal contra o Flamengo. Em 2023, com o reforço essencial de Lucas Moura na reta final, eliminamos na sequência os dois maiores rivais da Capital e batemos o Flamengo na grande final. Em 2024 fomos eliminados nas quartas de final pelo Atlético-MG, time que chegou à decisão contra o Flamengo.
A Copa do Brasil paga bons prêmios por fase, mas a disputa é duríssima e, cada vez mais, os times de maior investimento tem focado nesse título. O tempo das “zebras”, do tudo é possível, ficou para trás, e apenas o campeão da Copa do Brasil garante vaga na Libertadores do ano seguinte. A aposta na Copa do Brasil hoje exige um cacife muito alto.
A Supercopa Rei, de 2024, em que batemos o Palmeiras nos pênaltis, é superestimada pela diretoria como uma grande conquista. O feito se valoriza por ter sido em confronto com um rival histórico, mas, há que se ponderar que essas “recopas” ou “supercopas” têm uma característica muito mais de “amistoso de luxo”, ou espetáculo para a TV, do que de propriamente uma competição oficial. Não é um título que ficará na memória do torcedor por muito tempo. Valeu também por reforçar o caixa no primeiro semestre, período em que as receitas de clubes de futebol são reduzidas.
Torneios da CONMEBOL
Na disputa dos torneios da CONMEBOL, duas realidades diferentes. Em 2021 o SPFC recebeu como “herança” da gestão anterior uma vaga na fase de grupos da Libertadores. O time aproveitou a oportunidade, e fez boa campanha, sendo eliminado pelo Palmeiras, que viria a ser o campeão, nas quartas de final. Já em 2022 e 2023, devido às péssimas campanhas no Brasileiro 2021 e 2022, o Tricolor disputou a Sul-Americana, torneio subalterno, disputado por equipes de muito menor expressão e com receitas muito menores. A diretoria apostou todas as fichas na conquista da Sul-Americana 2022, mas na final em jogo único o time foi superado pelo Independiente del Valle, do Equador e ficamos fora da Libertadores 2023. Em 2023 fomos eliminados nas quartas de final pela LDU de Quito. Falhar contra adversários de muito menor investimento teve um custo elevado para o SPFC, que se garantiu na Libertadores 2024 graças ao título da Copa do Brasil. A campanha na Libertadores 2024 foi boa, e mais uma vez fomos eliminados nas quartas de final, em disputa de pênaltis contra o Botafogo, equipe que viria a se sagrar campeã.
Para lograr essas boas campanhas nas Copas, porém, o São Paulo utilizou times mistos, ou mesmo totalmente reservas, em várias rodadas dos Brasileiros 2021, 2022, 2023 e 2024. Assim, colecionou fracassos como as derrotas para o Fortaleza, no Morumbi, em 2021, o empate sem gols contra o Juventude, em casa, em 2022, ou ainda a derrota para o América-MG em 2023. Em agosto de 2024, o Tricolor poupou vários titulares para enfrentar o Nacional (URU) pelas oitavas de final da Libertadores, e foi com um time misto ao Palestra Itália, para ser derrotado pelo Palmeiras. Foram pontos importantes deixados “na mesa” pelo Tricolor, e que não puderam ser recuperados.
Campeonato Brasileiro
Foram 38 jogos em cada um dos anos, 2021, 2022, 2023 e 2024, mais 11 partidas remanescentes do Campeonato de 2020, atrasado devido à pandemia da COVID-19, totalizando 163 jogos pelo campeonato. O São Paulo teve aproveitamento de apenas 46% dos pontos disputados, acumulou 57 vitórias, com 53 empates e 53 derrotas, e um saldo positivo de apenas 10 gols no período. Tudo isso mesmo sendo uma das entidades que mais investe em seu time de futebol profissional. Em 2024, o treinador Luis Zubeldía conseguiu manter um aproveitamento superior ao de seus antecessores no Brasileiro, mas ainda abaixo das expectativas da torcida.
Figura 4 – Desempenho do SPFC em jogos de Campeonato Brasileiro, 2021 a 2024
Menosprezar o Campeonato Brasileiro, um grande equívoco.
O Campeonato Brasileiro ocupa oito meses do calendário nacional, representa praticamente a metade das partidas disputadas pelos grandes clubes do país, e é a competição que gera a maior parte das receitas para a grande maioria das equipes que disputam o torneio. Tem visibilidade na TV aberta, a cabo, em pay-per-view e streaming, cobertura ampla da imprensa, mesmo das emissoras que não detém direitos de transmissão, e da mídia alternativa. Oferece seis vagas na Libertadores, quantidade que pode ser ampliada pelos resultados das Copas para até nove times. Todos os confrontos são em dois turnos, com jogos de ida e volta, e nenhuma equipe deixa a competição durante seu transcorrer. Permite uma previsibilidade de recursos e entradas de caixa, mas exige competência no planejamento da temporada e formação de elenco para, mais do que garantir o sucesso, evitar um desastre.
Apenas nove equipes disputaram todos os jogos do Campeonato Brasileiro da Série A realizados entre 2021 e 2024, e não foram rebaixadas. O SPFC foi o time de pior desempenho entre esses:
Figura 5 – Classificação acumulada – jogos do Campeonato Brasileiro da Série A realizados entre 2021 e 2024
Equipes de muito menor investimento somaram pontuação muito superior à do Tricolor. Em maio, após a publicação dos demonstrativos financeiros de todas as equipes, farei o comparativo considerando também o quanto cada equipe gastou com sua equipe de futebol no período.
Somados todos os jogos de Campeonato Brasileiro, de 2021 a 2024, para as equipes que disputaram a Série A em todas as temporadas e não foram rebaixadas, o SPFC apresenta a menor pontuação, o menor número de vitórias e o pior ataque entre os clubes que se qualificaram para a comparação.
Em 2025, o potencial de geração de receitas do Campeonato Brasileiro da Série A está ampliado em consequência do novo contrato de direitos de transmissão entre a Globo e a LIBRA, liga de clubes da qual o São Paulo faz parte. Da verba total, a distribuição de 30% está vinculada ao desempenho, medido pela classificação no Brasileirão, enquanto 30% serão distribuídos em função da audiência gerada por cada clube. Apenas 40% da receita total será distribuída de maneira igualitária. Um bom desempenho na Série A de 2025 pode representar uma geração de receitas superior ao que se pode obter nas Copas, e com muito mais previsibilidade.
Uma esperança de que nesta temporada o Brasileirão seja levado mais a sério vem da entrevista concedida por Luis Zubeldía, no programa Bola da Vez da ESPN, que foi ao ar no dia 15 de dezembro de 2024. O técnico Tricolor declarou:
“Nos encantamos com as Copas, mas o que dá corpo a uma instituição, o que dá equilíbrio, o que dá seriedade a uma instituição, no meu entender é o Brasileirão. Mostra se temos um elenco competitivo, coerência institucional com os dirigentes, uma comissão técnica equilibrada, trabalhadora. No Brasileirão passamos por todas as situações emocionais, nas diferentes áreas…”
Carlos Augusto de Barros e Silva, o Leco, antecessor de Julio Casares, é apontado por muitos como “o pior presidente da história do SPFC”. Raí, ídolo como jogador nos anos 90, e diretor de futebol entre 2018 e 2020, é considerado como um exemplo de mau dirigente, por ter obtido resultados inexpressivos. Vejamos o comparativo de resultados, usando a régua comum do campeonato mais importante da temporada, competição em que é possível fazer uma comparação direta, entre a atual gestão de futebol, de Casares e Belmonte, contra seus antecessores Leco e Raí.
Figura 6 – Comparativo de desempenho Casares/Belmonte x Leco/Raí, em jogos do Campeonato Brasileiro
Os números são claros. Em jogos de Campeonato Brasileiro, o desempenho dos times sob gestão de Leco e Raí foi muito superior ao alcançado pela dupla Casares e Belmonte.
Resumido os dados acima, apresento uma comparação direta.
Figura 7 – Comparativo de desempenho em jogos da Série A do Campeonato Brasileiro.
Nos três anos de gestão Leco / Raí o time alcançou pontuação compatível com a classificação para a Libertadores do ano seguinte, enquanto o melhor que a dupla Casares / Belmonte conseguiu foi o aproveitamento de 52% dos pontos, e o sexto lugar no Brasileiro 2024.
No Brasileirão, equipes com aproveitamento na casa de 40% estão sempre muito próximas da zona de descenso. Se o presidente Casares não revisar suas prioridades, correrá o risco de entrar para a história como o primeiro a dirigir o Clube em uma temporada na segunda divisão.
Anfitrião generoso. Visitante dócil.
O fator casa sempre foi um diferencial importante para o Tricolor Paulista. Jogar no Morumbi era um tormento, mesmo para os mais tradicionais adversários. Ao mesmo tempo, sempre fomos um osso duro de roer para aquelas equipes que visitamos. O SPFC venceu quatro de seus títulos Brasileiros jogando a partida decisiva longe do Morumbi. Ganhamos uma Libertadores no Chile, e atravessamos o planeta por três vezes para trazer na bagagem três mundiais. No período do Tri Hexa, de 2006 a 2008, sempre em pontos corridos, tivemos aproveitamento de 78% em casa e de 56% como visitante. Vejamos como foi o desempenho no período considerado neste estudo.
Figura 8 – Desempenho do SPFC como Mandante x Visitante, 2021 a 2024
O aproveitamento geral de 66% dos pontos disputados como mandante, razoável, é bastante influenciado pelo resultado das Copas, prioridade da diretoria e onde enfrentamos algumas equipes de menor potencial. No Campeonato Brasileiro fomos um anfitrião generoso, deixando nossos visitantes levarem 40% dos pontos em disputa, sendo que no período em análise cedemos pontos no Morumbi para times como Juventude, Ceará, Coritiba, América-MG, Sport Recife e Cuiabá, entre outros.
Fora de casa, nosso desempenho em jogos de Campeonato Brasileiro foi do nível de equipes rebaixadas, com apenas 32% de aproveitamento dos pontos jogados e saldo negativo de 29 gols. Em 2023 a bem-humorada torcida Tricolor apelidou o time de “home office”, pois só trabalhava em casa. Mesmo considerando o total de jogos, que inclui as Copas, o São Paulo foi muito mal como visitante, apresentando apenas 42% de aproveitamento e saldo de gols nulo. Como visitante fomos dóceis, e pouco incomodamos aqueles a quem fomos visitar. Se continuarmos assim, no futuro podemos ir parar em outros Estados e estádios, não tão próximos, nem tão sofisticados, quanto os ambientes que estamos acostumados a frequentar.
Precipitação na troca de treinador.
Quando assumiu a presidência, Julio Casares prometeu uma administração com foco profissional, empresarial.
O primeiro treinador sob sua gestão, Fernando Diniz, comandou o time por apenas seis jogos. O técnico que havia conduzido a equipe à liderança do Campeonato Brasileiro em 27 rodadas, apresentando o melhor ataque e a defesa menos vazada da competição, de repente, acumulou apenas 2 pontos em seis confrontos na reta final do Brasileirão. Assustado com a impressionante queda de rendimento, Julio Casares dispensou Diniz e nomeou Marcos Vizolli como interino. Qual a causa raiz para tamanha queda de rendimento? Eu não sei. Essa pergunta fica para que alguém a responda no futuro.
Vizolli atuou como interino enquanto o Clube iniciou um processo de seleção para o novo treinador. Seguiram um roteiro corporativo para essa escolha. Definido o perfil desejado, buscaram profissionais no mercado que se encaixassem nos requisitos para o cargo, identificaram candidatos, os submeteram a rodadas de entrevistas, para, ao final fazer uma oferta àquele que foi selecionado. Hernán Crespo comandou o SPFC pela primeira vez em 28/02/2021, na estreia do Campeonato Paulista, no Morumbi, no empate contra o Botafogo de Ribeirão Preto (1 x 1).
Campeão Paulista, Crespo era muito bem avaliado pela torcida, e parecia ter o apoio dos dirigentes. A admiração da torcida e o respeito dos dirigentes, porém, não resistiu a uma sequência de 10 jogos com apenas uma vitória, entre o final de agosto e o início de outubro, incluindo a eliminação na Copa do Brasil. Crespo comandou o Tricolor por 57 partidas, em pouco mais de sete meses de trabalho. Prevaleceu mais uma vez o espírito amador, imediatista, sobre o comportamento profissional prometido no início do mandato.
No mesmo dia em que Crespo foi demitido pela manhã, Rogério Ceni comandou o treino na Barra Funda no período da tarde. Rogério, em sua segunda passagem como técnico do São Paulo, estreou no Morumbi em 14/10/2021, em jogo contra o Ceará (1 x 1). Ceni, com a vantagem de ser um ídolo da torcida como jogador, durou 18 meses no comando da equipe, e dirigiu a equipe em 107 jogos com aproveitamento de 55%. Levou o SPFC a duas finais, Paulista e Sul-Americana, e à semifinal da Copa do Brasil, mas não conquistou títulos.
Dorival Junior veio para conduzir o São Paulo à sua conquista mais importante desde 2008, a inédita Copa do Brasil. Valorizado, Dorival foi convidado para treinar a Seleção Brasileira e deixou o SPFC em janeiro de 2024.
Thiago Carpini assumiu o comando e esteve à frente da equipe por 18 jogos, sendo dispensado em abril, após um mau início de Campeonato Brasileiro e uma derrota para o Talleres pela Libertadores. Luis Zubeldía estreou em 25 de abril de 2024 e soma, no momento, 49 partidas como técnico do SPFC.
Por que eu falo em precipitação na troca de treinador? A tabela abaixo mostra:
Figura 9 – Desempenho dos treinadores do SPFC, 2021 a 2024
Os números ficam ainda mais claros no comparativo abaixo:
Figura 10 – Quadro comparativo do desempenho dos treinadores, 2021 a 2024
O desempenho de Crespo e Dorival Junior no comando do SPFC é muito parecido em termos de aproveitamento percentual. Rogério Ceni e Zubeldía tiveram resultados ligeiramente superiores. Crespo teve resultados melhores na média de gols marcados, enquanto Dorival foi melhor na média de gols sofridos. O saldo de gols de Crespo, bem melhor proporcionalmente, foi turbinado por goleadas contra equipes fraquíssimas como o 4 de Julho de Piri Piri (9 x 1, pela Copa do Brasil), São Caetano e Internacional de Limeira, entre outras, pelo Campeonato Paulista.
Em outubro de 2021 pagamos a multa rescisória de Crespo e sua comissão, contratamos um novo treinador, Rogério e sua equipe, para obter resultados absolutamente similares aos do técnico anterior. O mesmo fato se repetiu em abril de 2023, com Dorival substituindo Rogério Ceni. Após um período curto com Carpini, Zubeldía assumiu e, de forma previsível, tem aproveitamento percentual muito parecido aos dos técnicos anteriores. Desde 2012 o São Paulo vem realizando frequentes trocas de treinador, que sempre começam bem e depois fracassam. Já tivemos tempo de perceber que o nosso problema não está no banco de reservas, em quem treina e escala a equipe. Uma equipe precisa de estabilidade de comando para poder evoluir de forma sustentável.
Conclusão
A minha conclusão dos dados acima é que a prioridade que vem sendo dedicada ao Campeonato Estadual e às Copas trouxe bons resultados de curto prazo, com títulos muito comemorados, que resgataram a autoestima do São-paulino, mas que o São Paulo Futebol Clube não pode seguir subestimando a importância do Campeonato Brasileiro em pontos corridos, sob risco de ter um desastre inédito em nossa história.
O título da Copa do Brasil 2023 teve grande importância, sim, pelo ineditismo, pelo porte da competição, pelo valor da premiação, pela valorização dos atletas, e pela garantia de receitas superiores com a participação na Supercopa e Libertadores 2024. Apostar, entretanto, exclusivamente nos torneios com fases eliminatórias é um grande risco para a Instituição. Em 2024, apesar de boas campanhas, fomos eliminados precocemente, em confrontos equilibrados, tanto da Libertadores quanto da Copa do Brasil.
O Cruzeiro Esporte Clube foi bicampeão da Copa do Brasil, em 2017 e 2018, para atingir a insolvência financeira e ser rebaixado em 2019. O Grêmio disputou as finais da Copa do Brasil 2020, dois jogos realizados já em 2021, e no mesmo ano caiu para a série B do Brasileiro. Sucesso em um torneio “mata-mata” não reflete necessariamente uma boa gestão da equipe.
Em minha opinião, o que realmente assegura a viabilidade da equipe no longo prazo são campanhas consistentes no Campeonato Brasileiro, competição que premia a regularidade, o planejamento e a boa gestão das entidades esportivas, e que garante uma previsibilidade de calendário, de receitas e de visibilidade para os patrocinadores.
Com o valor gasto pelo SPFC com seu time de futebol, não é aceitável terminarmos o Brasileiro fora do G6 em qualquer ano, e menos ainda por três anos consecutivos como ocorreu de 2021 a 2023. Por esse critério, avalio a atual gestão do futebol do Tricolor como ruim, ineficiente. Isso é o que eu penso.