Avaliação dos resultados da gestão Raí – temporadas 2018 e 2019
Raí Souza Vieira de Oliveira, ou simplesmente Raí, foi um grande ídolo do São Paulo Futebol Clube como jogador. Destaque da equipe que ganhou o bicampeonato da Libertadores 1992/93 e o Mundial Interclubes de 1992, seu desempenho no campo de jogo é indiscutível. Neste texto, porém, vamos avaliar seu desempenho como gestor do futebol do Tricolor.
Quando Raí foi anunciado como Diretor Executivo de Futebol do SPFC, no dia 7 de dezembro de 2017, eu considerei como uma boa escolha e tinha expectativa de que ele faria um bom trabalho. Raí viveu desde muito jovem no meio do futebol, convivendo com jogadores, dirigentes e empresários no Brasil e no exterior. Sempre manteve boa imagem como atleta e profissional. Após sua aposentadoria dos campos, no ano 2000, dedicou-se a projetos sociais e a desenvolver-se como gestor. Tem sua identidade associada fortemente ao São Paulo.
Passados dois anos de sua indicação, apresento aqui a minha avaliação dos resultados do trabalho de Raí nas duas temporadas em que comandou o futebol do São Paulo. Ressalto que este artigo foi finalizado antes do último jogo do Campeonato Brasileiro de 2019, o que não muda minhas conclusões.
- Resultados em competiçõ
- es:
Nenhum São-paulino pode se considerar satisfeito com esses resultados. Em dois anos, e administrando um dos maiores orçamentos de clubes de futebol da América do Sul, colecionamos fracassos em competições de todos os níveis.
- Aproveitamento de pontos na temporada
O aproveitamento acumulado dos dois anos foi muito abaixo do que se espera de um time com o investimento do SPFC. É ainda mais impressionante ver que em 2019, mesmo com as contratações de peso que foram feitas, tivemos resultados inferiores aos de 2018.
Para efeito de comparação na temporada 2009, na qual também não levantamos taça, o aproveitamento geral foi de 59% dos pontos disputados. A direção do SPFC não pode se contentar com menos do que 60% de aproveitamento, o que corresponde a garantir com tranquilidade a vaga no G4 do Campeonato Brasileiro.
- Desempenho em Clássicos
Os antigos diziam que “clássico é clássico, e vice versa”, indicando que não há favoritismo quando duas grandes equipes se enfrentam. Seguindo essa lógica pode-se esperar que, enfrentando os rivais tradicionais ao longo de um período, uma equipe tenha um número de vitórias equivalente ao de derrotas e de empates – com aproveitamento na casa de 44% dos pontos disputados.
Sob o comando de Raí o São Paulo ficou muito longe desse desempenho. Nosso número de derrotas foi mais que o dobro do número de vitórias, aproveitamento global de 31%, e novamente com queda de rendimento em 2019, quando a diretoria investiu alto em reforços.
- As trocas sucessivas de Treinadores
Quando Raí assumiu como Diretor Executivo de Futebol o técnico era Dorival Junior, que havia assumido a equipe durante o Campeonato Brasileiro de 2017. No início da temporada 2018 foram necessários apenas 14 jogos, em pouco mais de dois meses, para que Raí demitisse Dorival em plena disputa do Campeonato Paulista. Jardine comandou a equipe por dois jogos como interino (2 vitórias contra pequenos) antes de Diego Aguirre assumir o posto.
O Uruguaio Diego Aguirre foi o técnico que mais vezes comandou o São Paulo durante a gestão Raí, com 43 partidas em pouco mais de oito meses de contrato. Aguirre levou o time a liderar o Campeonato Brasileiro tendo sido “campeão do primeiro turno”, obtendo 56% de aproveitamento em sua passagem pelo Tricolor, ligeiramente superior aos 55% registrados por Dorival Junior. Cedendo a pressões desmedidas dos torcedores, Raí demitiu Aguirre faltando cinco rodadas para o final do Brasileirão, quando o time ainda disputava uma vaga direta na Libertadores. Jardine assumiu para os últimos cinco jogos da temporada 2018, obteve uma vitória, dois empates e duas derrotas, conquistou cinco pontos em 15 disputados (33% de aproveitamento) e levou o Tricolor à Pré-Libertadores como 5º colocado do Campeonato.
Raí decidiu apostar em Jardine para comandar o time em 2019, ainda que o treinador nunca tivesse comandado um time profissional em sua carreira. O São Paulo investiu em reforços de peso – Pablo, Pato e Hernanes entre outros – para tentar encerrar a incômoda “fila”. O erro ficou evidente na vexatória eliminação na Pré Libertadores para um time de segundo escalão da Argentina. Não fomos capazes de passar pelo Talleres de Córdoba, o que resultou em uma quebra de receita na casa de R$ 23 milhões segundo informações do próprio clube. No Paulista não conseguíamos nos impor nem contra equipes médias como Ponte Preta e Guarani (6J com 3V e 3D, 50% de aproveitamento). Jardine foi tarde após 13 jogos, com 4 vitórias, 3 empates e 4 derrotas (38% de aproveitamento como técnico efetivo). O São Paulo desperdiçou com essa escolha errada um período de três meses de planejamento, preparação e pré-temporada. Vejam que eu não considero nos números os jogos da Florida Cup, por serem jogos não oficiais.
Estávamos no meio de Fevereiro e o time precisaria de um técnico experiente, acostumado a lidar com elencos caros, com histórico vencedor e com energia para fazer de um grupo de atletas heterogêneo um bom time de futebol. Raí contratou Cuca, que porém só poderia assumir no final de Abril, pois ainda se encontrava em licença médica. Mais um erro e mais dois meses desperdiçados no desenvolvimento da equipe. Mancini assumiu como interino, teve sucesso relativo pois levou o time à uma final de campeonato Paulista pela primeira vez desde 2005, e passou o bastão após 9 jogos com 48% de aproveitamento.
Cuca assumiu o time nas finais do Paulista, e foi derrotado. Nas oitavas de final da Copa do Brasil outro vexame – eliminação com duas derrotas para o Bahia. Começou mal o campeonato Brasileiro empatando demais – 3V 5E 1D nas nove primeiras rodadas, mas teve o período da Copa América para fazer uma boa inter temporada. No retorno do campeonato o empate contra o então líder e a sequência de cinco vitórias davam indícios que o time melhoraria e poderia até disputar o título. Foi um brilho fugaz. O time se ressentia da debilidade ofensiva e começou a perder rendimento, gerando novos protestos da torcida. Novamente sob pressão Raí não teve convicção para manter o treinador, que foi demitido após derrota para o Goiás no Morumbi. No Brasileiro Cuca comandou o São Paulo por 21 rodadas, com 9 vitórias 8 empates e 4 derrotas, obtendo 56% de aproveitamento.
Quando já havia sido anunciado que Mancini seria o treinador interino até o final da temporada, um fato novo veio desestabilizar ainda mais o ambiente no Morumbi. Comandados por Daniel Alves, os jogadores pediram a contratação de Fernando Diniz como novo técnico do São Paulo. Raí mais uma vez não teve força para impor sua escolha e cedeu às pressões novamente, contratando o técnico que havia sido demitido do Fluminense após deixar o time das Laranjeiras na zona de rebaixamento por quase todo o primeiro turno do Brasileiro. Aliás, em 2018 Fernando Diniz também conduziu o Athletico Paranaense por várias rodadas entre os últimos colocados do campeonato. Athletico e Fluminense melhoraram após a saída de Diniz.
O desempenho de Diniz até agora, com 16 jogos disputados e 52% de aproveitamento, é inferior ao de Cuca no Brasileiro. Nosso ataque continua pouco produtivo, e pioramos a defesa. Todos conhecem o estilo de jogo que Diniz tenta implantar em seus times, de toque de bola e marcação alta, e o histórico do profissional que é de fracassos. Assegurar que Diniz será o técnico do Tricolor em 2020 pode ter sido mais um erro de Raí como Diretor Executivo. A conferir em 2020.
Em resumo, a Diretoria de Futebol do São Paulo nesses dois anos não teve convicção para definir o estilo de jogo que pretende e o perfil de treinador necessário para implantar esse modelo, alternando a efetivação de treinadores retranqueiros, ofensivos, iniciantes, experientes, estrangeiros ou Brasileiros, sem nenhuma lógica aparente nessas contratações. Ao menor sinal de descontentamento da torcida e críticas da imprensa nossa diretoria não pensou duas vezes antes de ceder e demitir profissionais de reconhecida competência e histórico de sucesso na profissão como Aguirre e Cuca, para substituí-los por interinos. Curvar-se à vontade dos jogadores, que “selecionaram” Fernando Diniz é outro fato que demonstra a falta de comando do departamento.
- Contratações
Se um Diretor Executivo já não calça as chuteiras e não pode ser responsabilizado diretamente por fracassos no campo, se a cultura do futebol Brasileiro é de demitir sumariamente qualquer treinador quando a torcida reclama e nada pode ser feito, existe uma atividade que é de total e exclusiva responsabilidade do diretor de futebol. A contratação de atletas e formação do elenco.
Ao longo dos dois anos em que esteve à frente do futebol do São Paulo, Raí foi o responsável por contratações cujo montante se aproximou dos 140 milhões de Reais. Esse valor é equivalente ao que foi investido pelo Palmeiras (aproximadamente R$ 150 milhões), e inferior apenas aos investimentos feitos pelo Flamengo (na casa de R$ 200 milhões) no mesmo período. Os demais clubes da série A do campeonato Brasileiro tiveram verbas bem inferiores para as contratações. Os detalhes seguem na tabela abaixo. Os dados das transações foram obtidos no site www.transfermarkt.pt, e os valores em Euros convertidos para Reais pela taxa média do mês de efetivação da transferência.
Foram 15 atletas contratados em 2018, com investimento de R$ 58 milhões, e mais 14 novos componentes do elenco contratados em 2019, com gasto de R$ 78 milhões. No total trouxemos 29 atletas no período, investindo R$ 136 milhões.
Classifiquei as contratações em grupos, de acordo com a minha visão do desempenho de cada atleta em relação às expectativas criadas no momento da contratação.
Sucesso: 5 atletas e investimento de R$ 24 milhões até aqui. Incluo nesse grupo Anderson Martins, que disputa a titularidade na zaga, Tchê Tchê que tem sido titular em todas as partidas, e os atletas emprestados Thiago Volpi, Vitor Bueno e Igor Vinícius. Para contratar definitivamente Volpi o São Paulo precisará pagar 5 milhões de dólares, praticamente R$ 21 milhões ao Querétaro do México. Igor Vinícius tem o valor do passe fixado em R$ 2 milhões. O empréstimo de Vitor Bueno vence em dezembro de 2020.
Decepcionando: neste grupo de 10 atletas com investimento de R$ 79 milhões, temos os casos de jogadores que chegaram como grandes estrelas e com altos salários, e que estão produzindo bem abaixo do esperado – Hernanes, Pato, Pablo, Jucilei – casos de contusões crônicas – Everton e Rojas – e jogadores que estão na reserva sem justificar até agora sua contratação e o valor dispendido – Jean, Raniel, Calazans e Léo. Como sou um otimista ainda espero que esses atletas, após as férias e uma boa pré-temporada, possam vir a atuar de forma convincente em 2020.
Fracasso: 12 atletas e um prejuízo irreversível de R$ 33 milhões. Se alguns chegaram a ter bons momentos e apoio da torcida – como os veteranos Diego Souza e Nenê – outros mal entraram em campo com a camisa Tricolor – Edimar, Régis (meia) e William Farias. O suporte do departamento médico também se mostrou inadequado com as contratações de Biro Biro (afastado por problemas cardíacos), Régis (lateral) e Carneiro, ambos suspensos do esporte por casos de doping. O que faz um departamento de análise de desempenho que não vetou contratar atletas como Trellez, Everton Felipe e Bruno Peres, este último dispensado pelo Sport Recife após um jogo? Valdívia passou um curto período e não deixou saudades.
Pouco tempo: Juanfran e Daniel Alves chegaram ao São Paulo em Agosto deste ano e ainda é cedo para avaliar o sucesso ou não da contratação. Juanfran tem feito boas partidas, mas com Cuca estava com a titularidade ameaçada pelo bom momento vivido por Igor Vinícius. O espanhol tem um contrato curto, até agosto de 2020, e deve manter o bom nível de atuações até lá. Daniel Alves tem sido importante para o time, jogando no meio ou na lateral. A dúvida com relação ao Daniel Alves está relacionada ao longo tempo de contrato assinado com um jogador já bem veterano. Por que Raí, que se aposentou com 35 anos de idade e sempre teve boa condição atlética, aceitou assinar um compromisso de 3 anos e meio com um jogador que já tinha 36 anos de idade quando contratado? O valor total que o São Paulo gastará com Daniel Alves até 31/12/2022 será de aproximadamente R$ 70 milhões entre salários, contrato de imagem e luvas. No futebol de altíssima intensidade do campeonato Brasileiro, sujeito ao nosso calendário de 60 jogos ou mais por ano, será um grande desafio para Daniel Alves manter-se jogando em alto nível por mais três anos. Torço muito para que ele consiga e saia do Clube aposentado como mais um grande ídolo Tricolor, mas só o tempo dirá.
- Conclusão
Levantei os dados e procurei fazer uma análise quantitativa e fugir da emoção ao emitir minha opinião sobre os resultados do trabalho de Raí como Diretor Executivo. Por todos os aspectos observados vimos que o desempenho foi muito ruim, tendo como referência sempre o valor dos recursos que o diretor de futebol teve para montar uma equipe competitiva. Uma equipe de menor investimento poderia ficar satisfeita com os resultados obtidos pela atual gestão do futebol do São Paulo, em resumo escapar do rebaixamento e classificar-se no G6 do campeonato Brasileiro, mas nós temos que almejar o topo.
A imprensa anunciou nesta sexta-feira, 6 de dezembro, que o presidente decidiu manter Raí no posto, renovando seu contrato por mais um ano, embora as pressões fossem muito fortes por uma não renovação. Espero que tenha uma sido uma decisão racional e, caso decida substituir Raí futuramente, o faça seguindo os preceitos de profissionalização da Instituição, selecionando um gestor entre candidatos que tenham experiência e histórico de sucesso no comando de equipes de futebol da série A do campeonato Brasileiro.
O Raí deveria agir como o ídolo que sempre foi e declinar desse convite de se manter diretor. O Tricolor precisa se profissionalizar e pensar em modelos de gestão que dão certo e não se contentar com uma sexta posição e achar que isso tá bom.
Espero que a manutenção do Diniz e do Raí traga bons frutos, mas não consigo ver com olhos de esperança um futuro com um pouco mais de brilho.
Nesses anos de desmando da direção tds sofrem, que 2020 seja o começo de uma recuperação.
Obrigado Cristina.
Penso o mesmo.
Levantamento fantastico Marques, todos sabemos da incompetencia do administrador de ong que desenvolve um trabalho de resultados com valores repugnantes. Qualquer sampaulino vai con certeza reprovar o trabalho incompetente dele. Contratacoes equivocadas para quem certamente entende de futebol pois sua vida foi dentro desse contexto. Mas, parece que nada adiantou. Agora nao estamos so orfao de um diretor de futebol, estamos orfaos de tudo, de um presidente, principalmente e tambem de um conselho e diretores no minimo apaixonados por esse time a beira da falencia tanto financeira como moral. Tudo nesse time esta desmoronando, ate a vergonha hoje de ser sampaulino por que passamos. Se houvesse gente de respeito por la, nao estariamos com todo esse desconforto, a uma decada e pelo andar e trotar desses idiotas que se apossaram do clube, teremos muita amargura e ranger de dentes pela frente. Como tudo na vida ha um basta e seguir gente descompromissada nao fica bem, e melhor seguir outras trilhas, mas como paixa e paixao sempre fica uma ponta de esperanca por mudancas, pois somos o CLUBE DA FE. Entao, sou por uma mudanca radical em todos os setores, apesar da fe e da paixao, temos que mudar. Demorou. Fora le KU $ cia, conselho $ diretores, fora seus incompetentes.
Obrigado Lorenzo.
Flávio, perfeita eulogia da gestão Raí. Defendi a contratação dele para o cargo de diretor de futebol quando ainda fazia parte do conselho. Era o mais lógico a se fazer. Verdade que eu já tinha um pé atrás por causa da experiência ruim do sobrinho dele. Mas nem nas minhas piores projeções, Raí fracassaria tanto assim.
Duas coisas chamam atenção nessa “administração”. Quase a maioria dos jogadores contratados não ficou um ano e meio no clube, indicando terem sido “compras” equivocadas. Outra coisa é que, talvez, fora o Igor Vinícius, nenhum atleta se valorizou. Isto é, não teremos lucro algum com a revenda dos contratados. Grande falha. Afinal, o São Paulo sempre se notabilizou por garimpar pelo Brasil atletas desconhecidos que, fora o sucesso nos campos, depois se tornaram ótima fonte de renda.
É inaceitável o São Paulo ter aproveitamento inferior a 60%. Não quando possui o terceiro maior orçamento. Um ano ou outro até pode acontecer, mas não reiteradamente. E, pelo retrospecto até o momento, insistir no quixotesco Diniz definitivamente não é a melhor das apostas para reverter esse cenário. É como na máxima do Barão de Itararé: de onde menos espera, de lá é que não vem nada mesmo. Está na hora do São Paulo ser não apenas o clube da Fé. Mas da Razão também.
A menção ao Barão de Itararé foi genial!
Dessa atual gestão não se pode mesmo esperar grande coisa. Insistem no que não funciona e repetem erros de anos anteriores. Outra citação que encaixa é:
“Insanidade é repetir os mesmos procedimentos e esperar um resultado diferente”.
Saudações São Paulinas.
Caro Flavio Marques, mais uma vez, parabéns pelo excelente trabalho.
Diante deste quadro desalentador só nos resta torcer para que ele acerte a mão em 2020.
Abraço.
Obrigado Fernandes,
Sim, vamos sempre torcer para que dê certo.
Que 2020 seja o ano da virada na carreira de Diniz e do retorno do SPFC às conquistas.
Vendo essa análise e vendo que o Raí continua no ano que vem, da vontade de parar de torcer para o São Paulo.
Raphael,
As pessoas passam e o SPFC fica.
Não vamos desistir da nossa paixão.
Saudações São Paulinas.