Vendas de jogadores aliviam finanças do SP até 3º trimestre de 2020

Falta menos de um mês para o término da administração de Carlos Augusto de Barros e Silva, o Leco, e a situação financeira do São Paulo, com a qual terá de lidar seu próximo presidente, está em estado crítico.

A contabilização de receitas com vendas de jogadores ajudou a estancar perdas, mas o alívio registrado no terceiro trimestre é temporário. Receitas estão em baixa, e o prejuízo na temporada, acima do esperado.

O São Paulo abre a série de análises do ge sobre as finanças dos clubes – desta vez, com base nos balancetes com números até o terceiro trimestre deste ano, com fechamento no mês de setembro de 2020.

Especificamente no caso tricolor, a diretoria não publica balancetes com números parciais sobre as finanças. Falta transparência. O blog teve acesso a um relatório de atividades administrativas por meio de fontes no clube, motivo pelo qual o torcedor conhecerá a situação.

Receitas

 

Um dos maiores problemas da atual administração do São Paulo é a perda de receitas que, pelo menos até o começo da temporada, eram dadas como prováveis. Segundo os números calculados pela direção, a diferença entre expectativa e realidade ficou em R$ 150 milhões.

Organizado a partir do relatório são-paulino, o quadro abaixo mostra as receitas que haviam sido projetadas pelo departamento financeiro tricolor, no orçamento produzido para 2020, e as que foram efetivamente realizadas. Sempre tendo em consideração setembro.

Em R$ milhões set/20 (orçado) set/20 (realizado) Variação
Televisão 119 74 -45
Marketing e comecial 45 23 -22
Bilheterias e estádio 65 17 -48
Associados 38 25 -13
Atletas 154 137 -17
Outros 7 2 -5
Receitas 428 279 -150

Uma rápida explicação contábil atenua a linha da televisão: os valores precisam ser contabilizados no balanço de acordo com a realização do campeonato, não com o fluxo de caixa. O que importa saber neste caso? Que a variação negativa assusta mais do que realmente atrapalha. O dinheiro entrou no caixa. Ele só não aparece integralmente no balanço.

De qualquer maneira, todas as outras fontes de arrecadação marcaram decepções em relação às projeções. Na área comercial, que inclui patrocínios e licenciamentos, o São Paulo arrecadou R$ 22 milhões a menos do que o clube previa. A diretoria descreve no relatório que tem enfrentado “dificuldades na prospecção de novos patrocinadores”.

Bilheterias e demais receitas do Morumbi naturalmente caíram. Com a suspensão das competições num primeiro momento, seguida pelo retorno com portões fechados, não há venda de ingressos.

A pandemia prejudicou a realização do show do Metallica, adiado e ainda sem previsão para ocorrer. No total, considerando todas as receitas diretamente ligadas ao estádio tricolor: R$ 48 milhões a menos.

Nos associados – uma linha que soma os sócios-torcedores com os filiados que frequentam o clube social –, a direção escreveu no relatório que houve retração por causa da pandemia. Pacotes de ingressos com descontos foram criados para tentar motivar a associação do torcedor.

Só mesmo uma linha trouxe alívio para as contas: a das transferências de jogadores. O São Paulo contabilizou no mês de julho as vendas de Antony (Ajax) e Gustavo Maia (Barcelona). Juntos, eles correspondem a quase R$ 117 milhões do total registrado no balanço.

Em agosto, foi contabilizado o recebimento da venda dos direitos econômicos de Vitor Tormena. O atleta estava jogando no Gil Vicente e se transferiu recentemente para o Braga, ambos clubes de Portugal. O São Paulo tinha 30% do resultado líquido sobre a negociação dele.

A má notícia, ainda em relação aos jogadores, é que mesmo com um valor considerável tendo sido arrecadado, o clube ainda está abaixo do que a diretoria previa como necessário para o período. Ou seja: mais jogadores precisarão ser vendidos. Não precisaria ser assim caso as contas estivessem equilibradas desde antes da pandemia. Não estavam.

Despesas

 

Um olhar sobre as saídas de dinheiro revela que apenas uma despesa aumentou em relação ao orçamento: a folha salarial do futebol profissional e da base. Se o São Paulo previa gastar R$ 114 milhões até setembro com ela, acabou desembolsando R$ 135 milhões.

Esse item inclui salários, direitos de imagem e encargos trabalhistas. Também está carregado por rescisões: Jucilei, Alexandre Pato, Anderson Martins e Everton. Parte delas será paga ao longo dos anos, mas, contabilmente, todo o valor precisa ser registrado no ato.

Em R$ milhões set/20 (orçado) set/20 (realizado) Variação
Folha salarial do futebol 114 135 +21
Demais despesas do futebol 136 95 -41
Sociais e esportes amadores 28 20 -8
Outros esportes profissionais 7 6 -1
Estádio 17 12 -5
Administrativas 24 22 -2
Despesas 326 290 -36

Em todas as demais despesas, do futebol profissional e de outras áreas, o São Paulo pôde economizar dinheiro em relação ao que gastaria. De maneira geral, os gastos foram reduzidos em R$ 36 milhões na comparação com o montante que a diretoria calculava para o período.

Neste caso, o problema é que as reduções não foram suficientes para compensar as perdas de receitas. Parte disso é inevitável: custos não são fáceis de manejar no futebol moderno, em especial com questões trabalhistas ligadas a atletas. Por outro lado, a situação estaria melhor se as despesas já não viessem de descontrole do ano passado.

O resultado prático dessas decepções com receitas e despesas é um prejuízo em vez de lucro. O São Paulo achava que poderia chegar a setembro de 2020 com R$ 79 milhões em superávit, na diferença entre uma coisa e outra, e a realidade apresenta um déficit de R$ 72 milhões.

Em R$ milhões set/20 (orçado) set/20 (realizado) Variação
Receitas 428 279 -150
Despesas -326 -290 36
Resultado financeiro -23 -60 -37
Resultado líquido 79 -72 -151

Por fim, uma linha merece atenção: o resultado financeiro. Ela registra a diferença entre receitas financeiras (juros sobre dinheiro aplicado, por exemplo) e despesas financeiras (juros sobre dívidas).

No caso do São Paulo, a diretoria explicou no relatório que o quadro muito pior do que o esperado tem a ver com a “variação cambial”.

Isso acontece porque o clube tem dívidas em moeda estrangeira – dólar, euro etc. Como o real é a moeda que mais se desvalorizou no mundo em 2020, essas dívidas ficaram maiores. A variação cambial aparece aí.

Dívidas

 

O que acontece quando há prejuízo? Geralmente, as dívidas aumentam. Alguém ficou sem receber. Ou alguém teve que emprestar dinheiro para que a fatura fosse paga. Essa é a consequência das contas no vermelho.

A administração de Carlos Augusto de Barros e Silva fez o endividamento tricolor disparar ao término de 2019. Pela primeira vez, o clube passou a dever mais de meio bilhão de reais na praça. E este número continuou a piorar em 2020 em decorrência sobretudo da pandemia.

O relatório da diretoria são-paulina não oferece o detalhamento sobre o vencimento dessas dívidas – em curto e longo prazos –, motivo pelo qual o blog não conseguirá entregar essa explicação ao torcedor. As variações de alguns tipos de dívidas ajudam a esclarecer o aumento, no entanto.

Duas linhas do balanço apontam dívidas maiores em setembro do que elas eram em dezembro do ano passado: R$ 18 milhões a mais em obrigações trabalhistas e R$ 18 milhões em acordos e contas a pagar.

Também houve um aumento de R$ 17 milhões na rubrica que soma dívidas com entidades esportivas, pela compra dos direitos de jogadores, e com direitos de imagem. Existe clara ligação entre essas dívidas e o futebol em campo, hoje no topo do Campeonato Brasileiro.

Por outro lado, o São Paulo conseguiu reduzir dívidas com instituições financeiras em R$ 16 milhões – de novo, na comparação entre setembro e dezembro. Esse item poderia ter ficado melhor, caso a direção não tivesse sido forçada a pegar empréstimos novos no terceiro trimestre.

O quadro abaixo mostra o tamanho de cada dívida conforme a natureza. A soma de todas elas dá R$ 587 milhões. Menos os R$ 27 milhões que o clube tinha em caixa em 30 de setembro, chega-se ao endividamento de R$ 560 milhões. Critério adotado pelo blog em todas as análises.

Fonte: globo Esporte

2 comentários em “Vendas de jogadores aliviam finanças do SP até 3º trimestre de 2020

  1. Quadro muito feio. Mas o prejuízo deste ano é justificado e tem que ser financiado.

    Não tem como resolver toda a dúvida no curto prazo. Tem que manter aquele projeto de gerar receita na negociação de atletas, mas sem parar de contratar e sem vender no desespero, tudo planejado.

    O time atual pode tirar o clube desse buraco, na medida que tem folha salarial menor, tem elevado potencial de ganhos na negociação de revelações e está bem encaminhado para ao menos garantir vaga na Libertadores.

    O clube precisa de um time estável para seguir colhendo esses frutos. Não adianta vender vários atletas de uma vez só e deixar o resto se queimando perante a torcida e, consequentemente, se desvalorizando no mercado.

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