São Paulo com três zagueiros: fracassos recentes e passado de glórias

Qualquer técnico que anuncie uma escalação com três zagueiros no futebol brasileiro tem de estar preparado para no mínimo uma grande repercussão. O tema é sempre muito polêmico no país pentacampeão do mundo, carregado de um pré-conceito que associa a formação tática com times defensivos e que se baseiam em uma boa retranca. Uma das poucas equipes no Brasil a superar esse tabu é justamente o São Paulo.

É verdade que o Tricolor do Morumbi, no passado, não foi poupado de críticas e desconfiança quando resolveu apostar na trinca de beques. A diferença das ocasiões anteriores é que o discurso dos oposicionistas foi sendo amenizado, e muitas vezes revisto, depois que a experiência começou apresentar seus primeiros resultados positivos.

A consagração chegou com os títulos da Copa Libertadores da América e Mundial, em 2005. No torceio continental, o São Paulo atuava com Fabão, Lugano e Alex à frente de Rogério Ceni. Segura e consistente, a equipe de Paulo Auturori não deixava de ser letal com Cicinho, Mineiro, Josué, Danilo, Júnior, Amoroso e Luizão.

No Japão, contra o Liverpool, Fabão e Lugano tinham a companhia de Edcarlos. Mais uma vez o esquadrão são-paulino se mostrou eficiente na marcação, apesar da superioridade dos ingleses e das defesas de Rogério Ceni, e surpreendeu com um avanço de Mineiro à área.

Mudanças no elenco e circunstâncias do futebol fizeram o São Paulo abandonar por um tempo a polêmica estratégia. Entretanto, não demorou para que Muricy Ramalho resgatasse a ideia, em 2007. Com André Dias, Breno e Miranda, o treinador dava mais liberdade a Souza, Richarlyson, Hernanes, Jorge Wagner, Leandro, Dagoberto e Borges.

Assim, o São Paulo não só levou o título Brasileiro pela segunda vez consecutiva como também chegou a dar espetáculo. No ano seguinte, o time era mais econômico e não tão vistoso, mas voltou a fazer valer a eficiência do sistema com três zagueiros e de novo ergueu a taça do nacional por pontos corridos, dessa vez com: Rogério Ceni; Rodrigo, André Dias e Miranda; Joílson, Zé Luis, Hernanes, Jorge Wagner e Hugo; Dagoberto e Borges.

Apesar do sucesso do São Paulo, o esquema com três zagueiros não se proliferou no Brasil. De lá para cá, a cada ano mais times europeus aderem ao plano de jogo. Sem a mesma resistência no Velho Continente, recentemente Juventus, Napoli e Chelsea fizeram sucesso com seus três zagueiros em campo.

Por aqui, praticamente apenas o São Paulo voltou a insistir na formação. O problema é que o passado de glórias deu lugar a fracassos recentes. Em 2014, o mesmo Muricy Ramalho apostou em uma defesa composta por Rafael Toloi, Rodrigo Caio e Antônio Carlos, mas não alcançou os resultados esperados com uma escalação que se completava com Douglas, Souza, Maicon, Boschilia, Álvaro Pereira, Kaká, Pato e Alan Kardec.

 O técnico colombiano Juan Carlos Osório, no ano seguinte, entre suas frequentes experiências e rodízio de elenco, também chegou a testar Matheus Reis ao lado de Rafael Toloi e Dória. Outro que deu as caras no setor foi Lucão. Thiago Mendes e Michel Bastos, à época, eram escalados como alas. Os resultados, no entanto, de novo não vieram e tanto o sistema quanto Osório acabaram esquecidos por um tempo assim que o técnico aceitou o convite da seleção mexicana.

A última tentativa veio com Rogério Ceni. Capitão de todos os grupos são-paulinos que triunfaram com três zagueiros e fã declarado do método de trabalho de Osório, o eterno ídolo dos são-paulinos foi contratado no início de 2017 para sua primeira empreitada como técnico. E de antemão fez questão de deixar claro que trabalharia para montar um time ofensivo, que buscasse posse de bola, domínio e gols.

O discurso era audacioso e ambicioso. Rogério Ceni parecia convicto que o São Paulo poderia voltar a ser vencedor e dono de um futebol vistoso jogando com a trinca de beques à frente do goleiro, e longe de ser retranqueiro.

Depois de uma pré-temporada de muitos testes, a estreia no Campeonato Paulista acabou sendo um verdadeiro desastre com Rodrigo Caio, Douglas e Maicon juntos. Lugano, Lyanco e Militão também chegaram a receber oportunidades entre os titulares, mas em pouco tempo Ceni se viu forçado a desistir da estratégia perante a forte pressão interna e a falta de paciência dos torcedores, já que além das vitórias não aparecerem como se imaginava, o time passou a ter uma média de gols sofridos altíssima.

Agora é a vez de Diego Aguirre tentar. O uruguaio, que é famoso no futebol por montar equipes seguras defensivamente, vai com Rodrigo Caio, Arboleda e Bruno Alves para o confronto dessa quarta-feira, contra o Atlético-PR, em Curitiba, pela Copa do Brasil. O São Paulo ainda terá Éder Militão, que é zagueiro de origem, na ala direita. No palco que o Tricolor Paulista nunca triunfou, o controverso sistema de três zagueiros novamente se colocará à prova pelo São Paulo. A princípio, Aguirre pelo menos tem o respaldo do torcedor.

Fonte: Gazeta Esportiva

2 comentários em “São Paulo com três zagueiros: fracassos recentes e passado de glórias

  1. Se o Aguirre conseguir compactar as três linhas, entendo que é o sistema mais adequado para ser utilizado em alguns jogos. Contudo, esse esquema exige alas mais dinâmicos.

    • Será interessante observar o comportamento do time em campo,
      Mas o que me preocupa é exatamente isso, antigamente tinalhamos Cicinho e Junior, Showza e Jorge Wagner, que fechavam as alas e apoiavam com qualidade.
      Hj temos Militão e Tiririca..
      Vamos torcer

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