Em alta no São Paulo, Arboleda quase se tornou policial e imitava Ronaldo

A semana tem sido de comemorações para Arboleda no São Paulo. Primeiro marcou o gol da vitória do clube sobre o Avaí, no último domingo, na mesma partida em que atingiu 100 jogos com a camisa tricolor. Dois dias depois completou 28 anos e nesta quinta-feira ganhou uma homenagem da SPFCTV, que divulgou uma entrevista sobre a história do zagueiro equatoriano.

Entre outros assuntos, Arboleda lembrou seu início no futebol, quando ainda atuava como meia e não como defensor, até que uma circunstância em um jogo nas categorias de base do Olmedo mudou toda a sua trajetória.

– Um zagueiro foi expulso e o outro se machucou, só tinha lateral e não tinha zagueiro, aí o técnico falou no intervalo: “quem pode me ajudar como zagueiro?”. Aí eu falei: “professor, eu jogo”. Nós ganhamos o jogo por 1 a 0, com um a menos, difícil, aí o treinador falou “você joga bem de zagueiro” e eu falei “sim, professor, mas não pense que eu vou jogar de zagueiro, só era para te ajudar” – contou o são-paulino antes de explicar como mudou de ideia:

– No jogo seguinte, com um expulso e outro machucado, só tinha um zagueiro e ele me falou “Arbo, só me ajuda mais um jogo”. Foi aí que eu comecei a jogar de zagueiro, naquele jogo, e o treinador do time principal estava assistindo. Eu fui tão bem que ele falou “quem é esse menino que está jogando bem com a camisa 5?”, porque eu até mudei o número da camisa, era um 8, um 10.

Mas o futuro não reserva um caminho tão fácil para a profissionalização e o sucesso. Durante um período de incertezas, Arboleda chegou a desistir do futebol e optou por seguir uma carreira inusitada fora dos campos, foi quando um telefonema e ajuda de sua irmã recalcularam a rota do zagueiro.
– Chega um momento em que você pensa que não vai dar, que vai ter que mudar alguma coisa, aí eu voltei para casa, terminei meus estudos, e falei para a minha mãe que queria ser polícia, queria fazer o curso, mas queria ser atirador. Aí ela falou que eu poderia fazer outros cursos de polícia, mas não de atirador. Mesmo assim eu falei “não, eu quero ser atirador”. A gente arrumou todos os documentos, deu tudo certo, era uma sexta-feira e eu tinha que me apresentar na segunda-feira para fazer o curso. Olha como é minha vida! No sábado, acho que umas 16h, alguém ligou para minha irmã dizendo que me queria em um time da Série B e ela falou “meu irmão quer ser polícia, não quer mais jogar bola”, mas foi graças a ela que eu viajei, não tinha dinheiro. Ela tinha correntes, essas coisas, empenhou para conseguir o dinheiro para me dar a passagem e ela falou “toma irmão, vai”. Só tinha o dinheiro da passagem e dois dias de comida.

Antes mesmo de saber que jogaria o Brasil, Arboleda nutria uma relação estreita com o futebol do país e tinha alguns jogadores brasileiros como ídolos. A idolatria por um deles, porém, provocou alguns problemas na escola

– Quando eu era menino, eu gostava do Juninho Pernambucano. Nossa, como ele batia na bola… Eu era muito fã dele, mas também do Ronaldinho, do Ronaldo. Eu imitava o Ronaldo, fazia o corte dele, deixava o cabelo só na frente e careca atrás, ia para a escola assim, depois duas ou três vezes me mandaram cortar tudo, porque não podia, tudo por causa do Ronaldo, queria imitá-lo.

Apesar de ter como referência um zagueiro equatoriano, Arboleda acredita que o melhor jogador da posição no mundo é uma brasileiro.

– Fui crescendo e já queria ser igual o Ivan Hurtado, capitão da seleção do Equador, zagueiro, gostava muito dele. Aí também vi Lugano, mas sou fã do Thiago Silva, que para mim é o melhor zagueiro do mundo.

Arboleda chegou ao São Paulo em junho de 2017 e lembrou como foi difícil a sua adaptação ao país e ao clube no início de sua trajetória com a camisa tricolor. Para ele, tudo foi possível graças ao seu trabalho e sua entrega.

– Lá no Equador é muito diferente, minha adaptação foi muito difícil, primeiro o idioma, não sabia nada, nem entendia. Nossa, eu era muito feio! Mudou muita coisa, com minha humildade, com meu trabalho do dia a dia, consegui me adaptar. Entrega nunca faltou e nunca vai faltar, porque a gente tem dias bons e dias ruins, e eu posso ter dias ruins, mas a vontade nunca vai faltar.

Adaptado totalmente ao clube e identificado com a torcida do São Paulo, Arboleda disse ficar arrepiado toda vez que vai ao Morumbi com o ônibus da delegação, algo que para ele vale a dedicação dentro de campo.

– Quando a gente sai aqui do CT e vai para o Morumbi, a chegada quando a torcida está fora do estádio, é algo impressionante, algo que marca muito, fico arrepiado, porque é algo impressionante como a torcida canta, sempre tem torcedores de verdade. Vale a pena correr por eles – concluiu.

Confira outros trechos da entrevista de Arboleda para a SPFCTV:

Infância difícil
Minha mãe se separou do meu pai quando eu era muito novo, minha mãe sustentou minha casa, meus irmãos, tudo sozinha.

Trabalhos para ajudar em casa
Primeiro ia com o meu tio, ele tinha uma mecânica, eu ia trabalhar com ele, ganhava qualquer dinheirinho, depois comecei a sair com um outro tio, vendia salgado, coisas na rua, pastel, era top, era bom. Sempre fui um cara alegre, um cara que sempre foi muito otimista. Eu saía, mas deixava um dinheiro escondido para ela (mãe), para ajudar em casa, não era muita coisa, mas valia pela intenção. Sou muito apegado a ela, aos meus irmãos. A minha família, para mim, é a melhor coisa que eu posso ter na vida.

Fã do Homem-Aranha
Eu era moleque e assistia aos filmes do Homem-Aranha, aí eu falava para o meu irmão “queria que uma aranha me picasse”, para ter poderes igual a ele, aquela teia, e o cara começou assim, foi uma aranha que picou ele. Quando meu irmão me falou que se uma aranha me picasse eu morreria, aí acabou a graça. Hoje eu tenho uma tatuagem do Homem-Aranha.

Planos para ajudar pessoas carentes no futuro
Quando eu era criança eu não tinha nada e agora que eu tenho a possibilidade de ter, quero poder ajudar as pessoas que não tem, crianças que moram na rua, crianças doentes… Eu sempre quis ter uma fundação para pessoas que moram na rua, mais do que tudo, para eles terem o alimento, roupas, estudo, porque o estudo é o mais importante. Eu falo “Deus, você já me deu tudo, a única coisa que eu te peço é isso: me ajuda a poder ajudar as outras pessoas”

 

Fonte: Lance

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