Ceni supera Manga como brasileiro com mais jogos na Libertadores

Um mito debaixo das traves. Na última terça-feira, Rogério Ceni, um dos maiores ídolos da história do São Paulo, completou 40 anos. Número raro para um jogador de futebol, mas nada espantoso para quem se acostumou a colecionar recordes. Ao entrar em campo, nesta quarta-feira, na derrota do Tricolor para o Bolívar-BOL por 4 a 3, em jogo válido pela pré-Libertadores, o camisa 1 disputou sua 74ª partida no torneio continental e atingiu mais uma marca expressiva na carreira: tornou-se o jogador brasileiro com mais jogos na história da competição, deixando o antigo recordista, o ex-goleiro Manga, para trás. Na contramão dos louros que a façanha proporciona, Rogério revelou toda a sua insatisfação com a virada sofrida em La Paz e fez duras críticas à postura da equipe são-paulina no segundo tempo.

Ídolo tricolor, Rogério escreveu mais um capítulo em sua longa trajetória como jogador. Ele tomou o trono que por 36 anos pertenceu a Haílton Corrêa de Arruda, o “Manguita Fenômeno”, um dos maiores goleiros da história do futebol brasileiro, que disputou 73 partidas na competição entre 1963 e 1977, segundo o somatório das estatísticas passadas por Botafogo, Nacional-URU e Internacional, antigos clubes do lendário atleta, ao GLOBOESPORTE.COM.

– É bacana alcançar este número na competição mais importante do continente, mostrando longevidade. Para mim é especial poder igualar ou ultrapassar pessoas que tiveram grandes feitos e que foram grandes ídolos ou grandes atletas na posição que jogaram – disse Rogério Ceni.

Sobre a marca histórica atingida pelo goleiro do São Paulo, Manga foi taxativo.

– O Rogério merece. Na minha opinião, é o melhor goleiro Brasil no momento e tem todo o meu respeito – afirmou, com um carregado sotaque espanhol, o ex-goleiro, que fixou residência em balneário Salinas, no Equador, onde é tratado como mito.

Rogério Ceni comemora gol do São Paulo contra o Bolívar (Foto: Marcos Ribolli / Globoesporte.com)Em jogo de ida da fase pré-libertadores, Ceni comemora um dos gols da vitória do São Paulo contra o Bolívar-BOL por 5 a 0, no Morumbi (Foto: Marcos Ribolli / Globoesporte.com)

Reserva de Zetti no bicampeonato de 1992 e 1993, Rogério Ceni jogou pela primeira vez o torneio continental em 2004. Já conhecido pela sua pontaria na cobrança de bolas paradas, o arqueiro-artilheiro marcou um gol de falta na competição logo na estreia, contra o Alianza Lima (vitória por 2 a 1). Em oito edições da Libertadores (2004, 2005, 2006, 2007, 2008, 2009, 2010 e 2013), ele possui 44 vitórias, 15 empates, 15 derrotas, 61 gols sofridos, 12 gols marcados e um aproveitamento de 66,21%.

– É uma competição diferente de tudo que a gente está acostumado a ver. É o objeto de desejo de muitos e muitos clubes. Ela dá, por exemplo, uma oportunidade única de você enfrentar os campeões de outros continentes. É um torneio de muita “guerra”, batalha e luta, onde você tem que se adaptar ao conceito do futebol sul-americano se quiser vencer.  São jogos mais duros, mais viris, mas difíceis… E esse é o prazer que há em disputar essa competição – analisou Ceni.

Com o contrato renovado com o São Paulo até o dia 31 de dezembro de 2013, Rogério Ceni voltou a mostrar a mesma personalidade que incorporou ao clube paulista a tal ponto que, com o passar dos anos, ambos se tornaram inseparáveis. E assim, o goleiro são-paulino ainda pôde acrescentar mais um item ao seu vitorioso currículo. E de novo, na Libertadores.

Desta vez, nas mesmas circunstâncias do lendário Manga, outro “vovô-goleiro” que, mesmo com a idade avançada, brilhou dentro das quatro linhas ao defender grandes esquadrões do futebol mundial.

– Eu agradeço de coração os elogios do Manga. Acho que a experiência é fundamental. Ele, se eu não me engano, jogou até os 42 ou 44 anos. Foi um goleiro excepcional. Muito acima da média. Fez história em grandes clubes do futebol brasileiro e jogou uma Copa do Mundo (1966). Meu pai contava histórias fantásticas sobre o Manga. Os dedos tortos… Ele pegava a bola com uma mão só… Meu pai o adorava. Até hoje lembro especialmente de um jogo: Operário-MS x São Paulo, semifinal do Campeonato Brasileiro de 1977, quando ele já estava em fim de carreira. O Manga foi um grande goleiro – contou Rogério Ceni, lembrando as histórias que seu pai, Eurides Ceni, fanático torcedor do Internacional, contava sobre o lendário goleiro, importante figura no bicampeonato brasileiro do Colorado na década de 70.

manga montagem (Foto: Editoria de Arte/Globoesporte.com)Com a camisa de Botafogo, Nacional e Inter, Manga virou lenda (Foto: Editoria de Arte/Globoesporte.com)

Coincidentemente, Manguita tinha 40 anos quando jogou sua última partida na Taça Libertadores – vitória do Internacional sobre a Portuguesa-VEN, por 2 a 1, no dia 27 de julho de 1977.

– A idade nunca me pesou. Sempre tive qualidade, segurança, tranquilidade e confiança para seguir em frente e desempenhar meu papel. Quando entrava em campo, meu objetivo era dar alegria a torcida do time que eu defendia, fazendo o melhor em campo – comentou Manga, o goleiro da seleção brasileira na Copa do Mundo de 1966.

Manga iniciou a carreira no Sport, de onde rumou para Botafogo, clube que defendeu por quase dez anos. Depois, atuou pelo Nacional-URU, onde foi tetracampeão uruguaio (1969, 1970, 1971 e 1972), da Libertadores e do Mundial de Clubes de 1971. Em 1974, retornou ao Brasil para jogar pelo Internacional, bicampeão brasileiro (em 1975 e 1976). Em seguida, ainda jogou por Operário-MS, Coritiba e Grêmio antes de encerrar a carreira, aos 45 anos, em 1982, no Barcelona de Guayaquil-EQU.

Imune à dor, Manga dispensava as luvas para voar e catar a “esfera” de couro. As mãos, com quase todos os dedos quebrados na disputa de bolas impossíveis, faziam defesas arrojadas – marca registrada do ex-goleiro, que jogou nove edições da Libertadores entre 1963 e 1977. Nesse período, foram cinco jogos pelo Botafogo, 52 pelo Nacional-URU e 16 pelo Internacional.

– Esse foi o grande momento da minha carreira. O Botafogo era a base da seleção brasileira da época e contava com Garrincha, Zagallo, Amarildo etc. Depois, em Montevidéu, joguei pelo Nacional, que também era a base da seleção local. Mais tarde, quando retornei ao Brasil, fui para o Internacional e pude atuar ao lado de grandes figuras como Falcão e Figueroa. Foi uma época muito feliz.

Manga ex-goleiro do Internacional (Foto: Divulgação / Site Oficial do Internacional)Manga foi goleiro do Inter na década de 70 e voltou a trabalhar no clube gaúcho (Foto: Divulgação / Site Oficial do Internacional)

Campeão em 2005, Ceni cogita se aposentar no fim do ano, mas antes pode alcançar um total de 88 jogos na Libertadores, caso o São Paulo chegue à final na edição 2013. Entretanto, ainda ficará longe do maior recordista da competição, o uruguaio Ever Hugo Almeida, que disputou 113 jogos, entre 1973 e 1990, pelo Olimpia-PAR. De acordo com Manga, o goleiro tricolor, mesmo quarentão, tem muito o que mostrar e pode ir ainda mais longe.

– Qualquer esquadão que tenha um bom arqueiro, já entra em campo com uma boa vantagem. E o São Paulo sempre teve o seu. O Rogério sempre foi um grande goleiro. Torço para que ele continue mostrando seu bom futebol. Se ele tem confiança e apoio da torcida, que o ama, não deve parar agora – dica daquele que embaixo dos três paus foi um gênio.

 

Fonte: Globo Esporte

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