“Casemarra” só para Luis Fabiano, Casemiro se conforma com stand by

Gazeta Esportiva.Net havia marcado com Casemiro uma entrevista exclusiva para que ele falasse sobre as Olimpíadas. E o jogador, incentivado pela assessoria de imprensa, manteve o combinado mesmo após Mano Menezes deixá-lo fora dos 18 convocados e colocá-lo só para os quatro da lista de espera caso um dos chamados tenham algum problema.

O volante recebeu a reportagem demonstrando serenidade, fazendo piadas como descrever o sanduíche comido na noite anterior. Seu único pedido era que a conversa fosse rápida, já que tinha compromisso. Por 15 minutos, respondeu a todas as perguntas, dizendo ser um orgulho estar em um grupo de 22 dos 52 primeiros pré-convocados para Londres. E relatou não gostar do apelido “Casemarra”, liberando só Luis Fabiano para usá-lo por saber que a brincadeira é sadia. Sobre a torcida, que chegou a chamá-lo de morto, teve personalidade para afirmar que “só cobram dos melhores”.

A tranquilidade só foi trocada por um sorriso quando o coordenador técnico Milton Cruz interrompeu a entrevista ao entrar na sala da assessoria de imprensa vestido com o uniforme que usou nas Olimpíadas de 1984, segurando a medalha de prata que conquistou. “Essa é antiga, hein Milton?”, disse Casemiro, admirando a camisa. “Você vai ganhar uma dessa aqui, não perde a esperança, não. Depois da convocação, sai um monte e entram outros que não tinham nada a ver. Não desanima, não. Vai buscar a de ouro lá”, falou o coordenador técnico. “Não vou desanimar. Obrigado”, agradeceu o jogador, parecendo sonhar.

Luiz Pires/VIPCOMM

Após ser titular do Brasil campeão mundial sub-20, volante tenta se contentar com lista de espera para Londres

Gazeta Esportiva.Net: A expectativa de todos, principalmente no São Paulo e imagino que a sua também, era que você estivesse na lista dos 18 convocados para as Olimpíadas. Como você recebeu a notícia de ficar só entre os quatro da lista de espera?
Casemiro: Olha, cara… (pausa para refletir) É… Tinha cortes, né? Ninguém estava garantido na lista. Então, você fica no aguardo. Triste eu fiquei, todos que não foram ficaram. Mas paciência. Quem manda é o Mano, ele que escolheu com a sua comissão. Paciência. Estou no grupo dos 22. Não tem muito que falar. Queria estar até mesmo no grupo dos 22. Fico feliz porque tinham 52 e fiquei entre os 22. É continuar fazendo o meu trabalho no São Paulo, não vejo problema nenhum.

 

GE.Net: Como você acompanhou a convocação? Pela televisão?
Casemiro: Não. Procurei nem olhar para não me iludir muito. Depois (de cada convocação), muitos me ligam, mas desta vez não ligaram.

GE.Net: Ninguém te ligou? 
Casemiro: Depois meu empresário me ligou dizendo que eu não tinha ido e tal. Mas não vejo problema nenhum. Desejo boa sorte para quem foi. Como estou entre esses quatro, estou à disposição se me chamarem, mas desejo boa sorte a todos. Todos que foram fizeram por merecer também.

GE.Net: Como fica a cabeça de quem está entre esses quatro suplentes? Você tem que esperar o azar de alguém que está lá se machucar… 
Casemiro: Você fica no aguardo. Faço meu trabalho no São Paulo da melhor maneira possível e, se precisarem, podem ter certeza de que estarei à disposição e 100%. Não posso desejar o mal para as pessoas que estão lá. A quem for, boa sorte.

Ricardo Stuckert/CBF

Meio-campista treinou na Alemanha e nos EUA com Neymar e Bruno Uvini, que estarão nas Olimpíadas

GE.Net: Para a Copa do Mundo de 2010, o Dunga não convocou o Adriano nem para os suplentes porque já havia “tentado de tudo, dado todas as oportunidades”. Você vê alguma semelhança? Que lição você pode aprender por não ter sido chamado?
Casemiro: Se fosse uma lição para mim, eu não estaria entre os 52 nem entre os 22. São detalhes. Todos acharam que o David Luiz estaria na lista e não estava. Não vejo problema. Fico triste por não ficar entre os 18, mas estou entre os 22. Isso é uma coisa muito boa. É uma Seleção Brasileira, estar entre os 22 é uma grande coisa.

 

GE.Net: O seu convívio com o Mano Menezes e a delegação nos amistosos na Alemanha e nos Estados Unidos antes da convocação foi tranquilo?
Casemiro: Perfeito. Até mesmo mais que perfeito. Tranquilo. Só tenho a agradecer mesmo por tudo que aconteceu lá. Como falei, estou à disposição. Estou feliz por ter representado a Seleção dentro de campo.

GE.Net: E no São Paulo? Você concorda que vive um momento de altos e baixos? 
Casemiro: Não tenho mais o que mostrar. Não sou mais promessa, como dizem que sou. Fui para a Seleção Brasileira principal, estou entre os 22 (para as Olimpíadas). Não tem mais aquilo de ‘será’, sabem do meu potencial. Eu vinha sendo titular, e existem outros jogadores de qualidade também. Não vejo problema nenhum de ficar um ou outro jogo no banco. Estou à disposição.

GE.Net: Você é chamado de “Casemarra” até pelo Luis Fabiano em treino… 
Casemiro: Agradeço ao Luis Fabiano. No dia a dia, às vezes fico triste, mas sempre falei e sempre vou falar bem do Luis Fabiano. Para mim, é como um pai mesmo, um irmão dentro e fora de campo, está sempre me ajudando, querendo o meu bem, sabe levantar a minha autoestima porque sabe o que posso dar para o time. O Luis Fabiano para mim é uma das pessoas fundamentais aqui, como o Rogério, o Milton Cruz, não tenho o que falar. São pessoas a quem só tenho que agradecer e agradecer a Deus por elas terem entrado na minha vida. São essas pessoas que me alegram no dia a dia.

Fernando Dantas/Gazeta Press

Meio-campista só permite que Luis Fabiano o chame de “Casemarra” por saber que brincadeira é sadia

GE.Net: Mas o apelido te incomoda?
Casemiro: Chamo o Luis Fabiano de Quico também. É uma brincadeira que sei que é sadia. Mas não gosto que me chamem (de Casemarra). O Luis Fabiano eu libero porque sei que é uma brincadeira sadia, mas não gosto que me chamem.

 

GE.Net: O Leão sempre teve como estratégia de motivação desafiar os jogadores, principalmente nas entrevistas, e ele usava bastante isso ao falar de você, fazendo até brincadeiras. Já o Ney Franco é mais tranquilo. É melhor ou você gostava do desafio?
Casemiro: Com tudo, não só no futebol, mas no dia a dia, você tem que superar desafios. Tenho certeza de que, com o Ney Franco, terei novos desafios. Um pouco mais diferentes, são pessoas diferentes, mas são desafios. O tempo todo você tem que desafiar a si mesmo no dia a dia. Não vejo que por ser o Leão ou o Ney Franco não terá desafio. Com certeza terá.

GE.Net: No Sul-americano e no Mundial sub-20, com o Ney Franco, você jogava mais recuado do que no São Paulo… 
Casemiro: (Interrompe) Por serem campeonatos de curto prazo, com poucos jogos, não se pode ficar queimando substituições. Com um jogador, você faz várias formações, e fizemos muito isso, às vezes como zagueiro, até mesmo um líbero, primeiro volante, volante pela lateral. Como sempre falo, estou aqui para ajudar. Se for para ser goleiro, zagueiro, atacante, estou aqui para ajudar. Não vejo problema nenhum de jogar mais recuado ou mais à frente, o importante é tentar fazer o meu papel da melhor forma possível.

GE.Net: Mas você saiu do Mundial jogando bem em posição mais recuada e voltou ao São Paulo jogando quase como um meia com o Adilson Batista. Isso te atrapalhou? Fez com que seu rendimento caísse? 
Casemiro: Não. Tento fazer várias funções da melhor maneira possível. Cada jogador vê de uma maneira. Não vejo problema nenhum. Agora com o Ney Franco tenho certeza que vai mudar muita coisa. Foi com o Ney Franco que apresentei o meu melhor futebol, falaram muito bem de mim. Não que eu não conseguia com outro treinador, mas houve essa sintonia. Desejo as boas-vindas para ele e vou tentar fazer o melhor possível, como era com o Leão e o Adilson.

Rafael Ribeiro/CBF

Casemiro diz que viveu sua melhor fase na conquista do Mundial sub-20 sob o comando de Ney Franco

GE.Net: O trato do Ney Franco com o jogador faz a diferença?
Casemiro: Não é que faz a diferença. Às vezes você acaba se encaixando melhor com algumas pessoas. Na Seleção tenho certeza de que encaixou perfeitamente, por isso nos levou a dois títulos muitos difíceis. Vamos ver aqui no São Paulo se vai encaixar, mas tenho certeza de que isso ocorre por ele ser uma pessoa muito boa. Não que os outros não eram, mas, pela minha experiência com o Ney Franco, a tendência é só boa.

 

GE.Net: Você entrou em contato com ele antes da convocação para as Olimpíadas ou logo depois que ele foi contratado pelo São Paulo?
Casemiro: Não, para não existir aquilo de que puxo sardinha ou puxo saco. Existe um profissionalismo.

GE.Net: Então você não falou mais com ele depois do Mundial sub-20? 
Casemiro: Com certeza existiu um contato. Eu conversava com ele perguntando da família. O Ney Franco gosta muito de saber extra-campo, se você está bem, porque isso com certeza envolve dentro de campo. O auxiliar dele, o Éder (Paixão), é uma pessoa maravilhosa, vale como treinador para mim. Eu me identifiquei muito com os dois. Só tenho que tentar agradecer dentro de campo aos dois.

GE.Net: Na derrota contra a Portuguesa, a torcida xingou o time antes, durante e depois e te insultou bastante. Como foi jogar com essa pressão? Casemiro: Fico triste, né? Ninguém gosta de ser xingado. Fui um dos mais xingados, mas todos foram xingados. É uma coisa que falo: se estão cobrando, é porque sabem que posso dar muito mais. Ainda mais de mim, sabem que posso ser um grande jogador no time. O torcedor tem todo o direito de cobrar, e sabe de quem cobrar.

Fernando Dantas/Gazeta Press

Jogador fala que Milton Cruz alegra seu dia a dia: coordenador ainda acredita nele em Londres

GE.Net: O jogador consegue ‘tapar o ouvido’ quando está jogando?
Casemiro: Lógico que não. Você fica muito triste por ouvir críticas, o jogador nunca gosta, mas tem que jogar. Não fui só eu, foi o time todo. O único a não ser xingado foi o Rogério, que não estava jogando. Isso pode ser um incentivo. Se estão cobrando, sabem que posso dar mais de mim… (Corrige-se) Dar mais de mim, não, porque estou sempre querendo dar o meu melhor, mas, não querendo ser uma pessoa arrogante, cobram dos melhores.

 

GE.Net: Um jogador chega a errar passe ou desistir de um drible porque está sendo vaiado? 
Casemiro:  Confiança hoje no futebol é tudo, você fica meio com receio. Mas jogar no São Paulo hoje em dia é assim mesmo, tem sempre que querer ser o melhor. Pressão tem que existir mesmo.

Fonte: Gazeta Esportiva

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