Agronegócio e calçados infantis: a vida acadêmica do pupilo de Ceni

Durante a tarde, Araruna ouve as orientações de Rogério Ceni. Deve mais uma vez ser lateral-direito no jogo desta quarta-feira, às 21h45, contra o São Bernardo, no encerramento da primeira fase do Campeonato Paulista. Pela manhã, a atenção é a mesma, apesar do cansaço, para se aprofundar em agronegócios e estudar sobre a produção de calçados infantis.

A primeira colocação no vestibular do curso de Administração na Faap (Fundação Armando Álvares Penteado) já é conhecida desde que o volante foi promovido por Ceni ao elenco profissional do São Paulo, em janeiro. O esforço feito por ele para manter o sonho acadêmico vivo, entretanto, só é visto de perto por quem acompanha a trajetória do “anônimo” nos estudos.

– O Felipe (Araruna Hoffman) é um aluno inteligente, que mesmo com muitas faltas, buscava fazer todos os trabalhos e prova. E sempre foi muito bem. É um cara discreto, na dele, sem incomodar ninguém e participando da aula como qualquer outro – conta Rafael Possik, professor da disciplina “Gestão do Agronegócio” e presidente da Associação Antigos Alunos da Faap.

Possik conheceu Araruna no ano passado, quando o garoto já formado em Cotia escolheu sua matéria como uma das disciplinas optativas do quinto semestre do curso de Administração. Rapidamente, notou as mesmas virtudes identificadas por Ceni: a capacidade de assimilar as informações com velocidade e aplicá-las com eficiência.

– Ele trouxe de casa uma educação básica muito bem estruturada e tem uma facilidade para aprender muito grande. Junta as duas coisas e ele se destaca. É difícil ver essa situação dele, demanda muito esforço e uma bagagem boa, força de vontade. Futebol já exige demais dele, então levar ainda um estudo em paralelo exige demais – observou o professor.

A rotina acadêmica de Araruna sofre com as viagens para jogos fora de casa. Se o time treina na terça pela manhã para viajar à tarde, chega a perder três dias de aulas e até seis horários. Quando consegue, repõe as faltas no período da noite. E ainda encontra tempo e fôlego para já colocar em andamento com um colega seu trabalho de conclusão de curso.

– É um plano de negócio, no caso um estudo de viabilidade para abertura de uma empresa de calçados infantis. Ele sempre se preparou muito bem. Minha disciplina exige muita pesquisa na internet e ele sempre se preparou muito bem, com trabalhos muito bem embasados e escritos. Até a letra é boa, o que é difícil hoje em dia – elogiou Possik.

Confira bate-papo com Rafael Possik, professor de Araruna na Faap:

Quando descobriram que era jogador do São Paulo? Tomaram alguma medida?
A gente identificou pelo número de faltas que ele teve durante o curso. Mas não tomamos nenhuma medida especial, tratamos ele como qualquer aluno. A gente respeitou e estimulou o lado profissional dele, mas mudar as regras da faculdade não pode. Só buscamos que ele tivesse semestres tranquilos.

Surpreendeu ver um jogador de futebol passando em primeiro lugar do vestibular?
Por ser jogador, não, mas a gente sempre fica curioso para saber quem será o primeiro colocado. Mas é só uma etapa, quando entra aqui todos se juntam, têm suas aulas e precisam ter atitudes colaborativas no dia a dia. E ele, como jogador de futebol, sabe atuar em equipe na sala de aula.

Como ficaram sabendo da promoção ao profissional? Pela imprensa?
Não teve destaque, o que interessa é a posição dele como aluno, que procurou a direção e comunicou que impactaria no dia a dia acadêmico dele. Está tentando se virar, buscando assistir às aulas que consegue, a parte mais difícil. Se não atingir o mínimo de presença, igual para todos, vai carregar dependências para o próximo semestre.

Ele tem um prazo para concluir as matérias pendentes?
Tem, mas não é um espaço curto. Haverá tempo. Vai passando nas matérias em que consegue vir e tem boas notas como sempre e depois completa as outros. É um bom aluno e vai tirar tudo de letra. Ele não pode ser um aluno diferenciado.

A faculdade é conhecida por receber alunos de classes mais altas, de famílias importantes. Isso facilitou nessa adaptação?
Aqui o diferente é comum, é uma faculdade acolhedora. Talvez em outra ele ficasse mais evidência, mas aqui isso ficou mais tranquilo. Os alunos costumam estar sempre juntos em grupos maiores. Está sempre acompanhado.

 

Fonte: Lance

Um comentário em “Agronegócio e calçados infantis: a vida acadêmica do pupilo de Ceni

  1. Ele é um garoto diferenciado… futebol não se joga só com os pés. O cérebro comanda e quando ele não se mostra apto para decodificar os comandos, o corpo sofre. Tem tudo para brilhar na carreira. Vou torcer muito pelo seu sucesso… precisamos acabar com o estigma de que todo jogador de futebol é ignorante e só pensa no dinheiro.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

*