Ademilson esquece mágoas, troca mãe por empresários e sonha em ficar rico no São Paulo

Quando o atacante Ademilson chegou à sala de imprensa do São Paulo para a primeira entrevista coletiva de sua vida, dezenas de câmeras, microfones e jornalistas se balançaram em torno da mais nova celebridade instantânea do futebol paulista. Na última segunda-feira, Ademilson disse ter se assustado.

“Vão devagar, vai ser a minha primeira vez”, afirmou o jogador de 18 anos logo na sua primeira resposta. “Há um mês, eu passava aqui e ninguém me olhava. Agora tem tudo isso, todos vocês aqui, é bem estranho”, disse ele, sorrindo. Muita coisa mudou na vida do garoto que saiu de São Vicente, litoral paulista, para se tornar o homem-gol de um dos maiores times do país.

No dia 22 de agosto, data de sua estreia como titular pelo São Paulo contra o Figueirense, as buscas no Google pela palavra “Ademilson” atingiram um pico nunca visto nos 12 meses anteriores. Desde então, o nome do atacante vem sendo quase tão digitado no site de pesquisas quanto o de Luis Fabiano, que está lesionado e deve ficar mais duas semanas fora de campo.

Na frente das câmeras, o jogador se afirma nervoso, mas responde com tranquilidade incomum à maioria das perguntas. Todos querem saber quem é esse que marcou quatro gols nos últimos cinco jogos e garantiu a última vitória para o São Paulo em um jogo difícil contra Sport.

Durante a entrevista coletiva, Ademilson foi instado a falar sobre sua infância e garantiu: não era pobre. “Eu era humilde, tive uma infância normal. Sou de São Vicente, de Humaitá, um bairro pequeno. Tem favela, mas eu não vim do meio da favela.”

Por duas vezes, ele se referiu à sua mãe, a professora Mara Lúcia, que dá aulas na rede pública da cidade do litoral. Até bem pouco tempo atrás, Mara, além de mãe, acumulava a função de empresária de jogador. Era ela quem negociava contratos, recebia propostas e administrava a carreira do filho. Já firmado no clube, Ademilson não resistiu ao assédio de agentes profissionais e se vinculou a uma empresa multinacional do ramo.

“Minha mãe cuidava de tudo até agora. Sempre cuidou dos meus contratos, fazia os contatos todos. Mas agora eu já tenho uma pessoa que faz isso para mim”, disse. Ainda agenciado pela mãe, Ademilson teve que passar pelo primeiro grande teste de sua carreira: se firmar nas categorias de base tricolores.

Sentindo-se desvalorizado pela diretoria, atento a propostas de outros clubes, ele esteve muito perto de jogar no Santos, clube vizinho de sua cidade. “Fiquei perto de sair, fiquei naquelas… me sentia desvalorizado, e ficava me perguntando ‘Será que eu saio, será que eu fico?’. Aí, perguntava aos meus técnicos o que eles achavam, até que o Zé Sérgio disse: ‘Não saia. No São Paulo você vai fazer sucesso e ficar rico.’ E graças a Deus estou aqui hoje.”

Antes de explodir no time profissional e conseguir números iniciais melhores até mesmo que os de Lucas, Ademilson era considerado baixo demais para um atacante. Mas sua estatura (1,76 m) aliada à velocidade lhe permitem estar em vários locais do ataque em um curto espaço de tempo. Seus gols, de puro oportunismo, são de quem consegue estar no lugar certo na hora certa.

“É uma joia”, o definiu o presidente Juvenal Juvêncio. “Fui ver treinar uma vez e fiquei encantado. Fui na segunda, e não precisava mais. E a velocidade? E a perspicácia? Esse moleque vai brilhar.” As cifras impressas no primeiro contrato profissional de Ademilson também parecem brilhar. Se algum clube quiser tirá-lo do Morumbi terá de pagar R$ 72 milhões. O vinculo é válido até 2016. Para comparar, a multa do meia-atacante Lucas é de R$ 180 milhões.

Mas Ademilson não quer comparações com o colega. “Vou caminhar na minha. O Lucas é o Lucas, e eu sou eu, fico na minha.”

Fonte: Uol

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