Sul-africano Tyroane Sandows é aposta na base do São Paulo

Aos olhos de quem vê e aos ouvidos de quem ouve, o sul-africano Tyroane Sandows, de 18 anos, nem parece que vem de outro país. Nos treinos do sub-20 em Cotia, comunica-se fluentemente em português com os companheiros e parte para cima da marcação como se tivesse nascido com o dom do drible tupiniquim. Características e personalidade que poderão ser vistas ano que vem, na Copa São Paulo, já que ele é hoje titular da equipe.

Há seis anos no Brasil, Ty – como é chamado pelos são-paulinos – chegou ao clube por meio de um projeto social, o Shona Khona (algo como “Busque seu Sonho”). Levado por um observador para uma grande peneira, passou por várias fases até ser escolhido entre 12 garotos. Aprovado, comemorou a chance na mesma intensidade que, de certa forma, lamentou a vinda. Isso porque, com apenas 11 anos de idade, teve de deixar os pais e a família para trás.

– Foi bastante difícil, mas eles me ajudaram, sempre apoiaram meu sonho. E aí temos que sacrificar certas coisas. Então a gente conversou, conversou, sou bastante religioso também, oramos a Deus e achamos que esse seria o caminho mais certo e mais rápido para eu atingir esse sonho. Decidimos isso e já estou aqui há seis anos – disse o tímido atacante (que também joga como meia), em entrevista ao LANCE!Net após o treino.

Porém, apesar da distância dos pais, Ty não carece de afeto paterno e materno. Morando em Cotia, visita quando pode o casal que o acolheu em solo brasileiro e os chama, inclusive, de segunda família. Diz ainda que o acompanham nas partidas do sub-20, mas revela que a torcida da “mãe” é um pouco mais calorosa.

– A mãe (Carla) é são-paulina, mas o pai (Paulo) é corintiano. Só que tenho certeza que se eu jogar no São Paulo um dia ele vai torcer por nós – brinca, revelando também que toda a família biológica já é tricolor.

Durante a semana, Ty vai à faculdade, onde cursa Educação Física. Define-se dentro de campo como velocista e habilidoso. Fora das quatro linhas, um cara tranquilo, que gosta de ir ao cinema. Coisas que não fogem do perfil de qualquer garoto brasileiro. Este é Tyroane Sandows.

NATURALIZAÇÃO E DUELO COM IRMÃOS

– Jogar uma Copa do Mundo – diz o são-paulino, sem pestanejar.

Porém, Ty ainda não sabe se a disputa de um Mundial viria com a camisa da África do Sul ou até mesmo com a da Seleção Brasileira.

– É uma conversa que já tive com meu pai. E conversamos sobre (a vontade de defender) o Brasil, pois nunca teve um jogador sul-africano que se naturalizou e jogou pelo Brasil. Mudar essa história seria bem interessante – prosseguiu.

E mudar a história poderia significar mais do que ser o primeiro sul-africano a defender a Amarelinha. Ty tem um irmão mais novo, Ethan, que mora na África do Sul. De acordo com o que o pai relata sobre o caçula, Ethan é bom de bola. Quem sabe não podemos ter irmãos se enfrentando em uma Copa do Mundo por países diferentes?

– É possível, e espero que se for acontecer, eu possa levar a melhor (risos) – brinca Tyroane.

Na Copa da África do Sul, em 2010, os irmãos Jérôme e Kevin-Prince Boateng se enfrentaram por Alemanha e Gana, respectivamente. E Jérôme teve mais motivos para celebrar: 1 a 0 para os alemães.

Tyroane Sandows: ‘A Copa mostrou a África de uma forma diferente’

L!Net: Acompanha o futebol sul-africano? Torce para algum time lá?
Ty: Bem pouco. Não tenho time que torço e acompanho bem pouco, mais pelas notícias que meus pais falam. Meus pais também não têm um time predileto assim…

L!Net: Como viu, de longe, a organização do Mundial na África do Sul? Trouxe melhoras ao país?
Ty: Em estrutura de estádios, aeroportos, acho que trouxe uma melhora. E a Copa do Mundo serviu também para mostrar a África de uma forma diferente. As pessoas olhavam para a África como se fosse um deserto, como se só tivesse animais, essas coisas, que não tinha estrutura. A Copa mostrou que não é bem assim.

L!Net: Encarou certo preconceito por conta disso quando veio ao Brasil?
Ty: Tinha um pouco, as pessoas não tinham muito conhecimento da África do Sul. Achavam que era tudo um conjunto. E expliquei que não é bem assim. Tem estrutura, tem prédio, shopping, todas essas coisas!

L!Net: Como avaliou o desempenho dos Bafana Bafana na Copa de 2010 (equipe caiu ainda na primeira fase)?
Ty: Ah, foi surpreendente. Não achei que ia ser tão bom, mas também poderia ter ido melhor. No primeiro jogo, por um vacilo tomou o gol. Se não tomasse, talvez tivesse classificado. Fiquei bem surpreso quando conseguiram ganhar da França, mas sabendo que poderia ter ido melhor.

L!Net: Gostou das idas do Joel Santana e do Parreira para lá? Foram boas?
Ty: Acho que sim, tem que trazer mais coisas de fora, coisas que estão dando certo no futebol brasileiro por exemplo. Podem reforçar o futebol de lá, ajudar a construir a história.

L!Net: Qual a sua participação ou até responsabilidade nisso? Se vê como alguém que pode abrir portas?
Ty: Acho que não é tão grande ainda, por eu ser novo e não ter conquistado nada até o momento. Mais para frente a gente pensa no que pode acontecer… Mas acho que tomando esse caminho pode ser que aconteça isso (abrir portas a outros). Só que primeiro tenho que construir minha história aqui no São Paulo.

L!Net: O que Tyroane Sandows estaria fazendo hoje se não tivesse passado por todos aqueles testes que o trouxeram ao São Paulo?
Ty: Confesso que não sei. Agradeço a Deus por ter dado esse dom do futebol para mim porque não sei o que poderia estar fazendo hoje.
Fonte: Lance

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