Ronaldinho? Atlético-MG? Fabrício acredita em classificação tricolor

“Ah, você acredita? CBF? Ah! Flamengo? Está de brincadeira. É capaz de eu pegar jogo porque estou falando isso aqui. Capaz de pegar dois, três jogos. Ronaldinho ser suspenso? Difícil, hein? Se preocupar com outras coisas”.

A declaração acima, feita pelo volante Fabrício no fim de 2011, ainda hoje rende risos – do próprio jogador, inclusive. Ao ser perguntado antes de duelo com o Flamengo sobre a possibilidade de Ronaldinho Gaúcho ser punido com 12 partidas de suspensão por conta de uma expulsão, ele rapidamente ganhou as páginas de humor na Internet pela resposta irônica, fora dos padrões atuais do futebol.

“Aquilo foi de momento”, explica o agora são-paulino, rindo, à Gazeta Esportiva.net. “A gente tenta usar tudo que é arma e recurso para desestabilizar o adversário. Mais do que isso, tenta favorecer a gente mesmo. Quase me dei mal por aquilo que falei, mas, graças a Deus, não pegou nada. Depois, virou até brincadeira. Não tenho nada contra o Ronaldo ou jogador nenhum”.

Volante e meia se reencontrarão nesta quarta-feira, pouco mais de um ano depois, no Morumbi, em duelo entre São Paulo e Atlético-MG pela última rodada da fase de grupos da Copa Libertadores. Enquanto o adversário antecipadamente tem a melhor campanha, a equipe paulista precisa vencer e contar com tropeço do The Strongest frente ao Arsenal, no mesmo horário, para se classificar às oitavas de final.

Acredita, Fabrício? “Acredito. No futebol, acontece de tudo”, disse, desta vez sério. O volante deve começar no banco de reservas, embora parte da torcida faça campanha por sua titularidade. Apesar disso, promete subir ligado a campo – como bom roqueiro que é – para, se for preciso, dar sua contribuição e tentar se dar bem mais uma vez contra o Atlético, sobre o qual foi tricampeão mineiro (2008, 2009 e 2011).

GE.net: O Ronaldinho foi assunto de uma entrevista engraçada sua que virou hit na Internet depois. Lembra?
Fabrício: (Risos). Aquilo foi de momento. A gente tenta usar tudo que é arma e recurso para desestabilizar o adversário. Mais do que isso, tenta favorecer a gente mesmo. Quase me dei mal por aquilo que falei, mas, graças a Deus, não pegou nada. Depois, virou até brincadeira. Não tenho nada contra o Ronaldo ou jogador nenhum.

GE.net: Você já o enfrentou algumas vezes, não é?
Fabrício: Já. Quando ele estava no Flamengo, principalmente. Com ele no Atlético, eu o enfrentei em junho do ano passado, já pelo São Paulo. Joguei pouco tempo, 20 minutos, e machuquei o joelho (rompeu os ligamentos do joelho esquerdo e só voltou a jogar em 2013). Com o Ronaldo, sempre tem que tomar cuidado. Pode não fazer nada, mas, em uma ou duas jogadas, decidir a partida. É o que vem acontecendo, principalmente neste ano. Ele reencontrou seu bom futebol. Com certeza, temos que tomar muito cuidado. Mas o Atlético tem muitas outras armas. É fundamental estudar bem o time deles para neutralizar todas.

GE.net: Você acredita na classificação?
Fabrício: Acredito, acredito. No futebol, acontece de tudo. Acredito na história desse clube. Uma história linda no futebol mundial, uma história forte nessa competição. Todas as vezes que joguei contra, senti isso, principalmente no Morumbi. Espero que a gente reencontre nosso bom futebol e consiga vencer o jogo.

GE.net: Pelo tempo que jogou no Cruzeiro, imagino que tenha assumido a rivalidade com o Atlético.
Fabrício: Sempre fui muito bem contra o Atlético. Todos os estaduais que conquistei foram em cima deles. Isso traz boas lembranças, até porque lá a gente vivia em duas torcidas somente. A rivalidade é acirrada. Acabei vestindo muitas vezes a camisa do Cruzeiro. Foi um dos times com o qual mais me identifiquei na carreira. Com certeza, a vontade de vencer na quarta-feira é ainda maior.

GE.net: Atualmente, você precisa mais se readaptar ao ritmo de competição ou a parte física ainda requer cuidado?
Fabrício: A parte física está muito bem, isso a gente vai melhorando a cada jogo. O que falta mesmo é ritmo de jogo. Tive oportunidades de jogar 90 minutos, tem sido bom. Na quarta-feira passada, com um homem a menos (Aloísio foi expulso no começo do segundo tempo da vitória sobre o União Barbarense), fui um dos que mais correram. Fico feliz.

GE.net: Todas as pessoas que falam sobre você no clube exaltam seu caráter e profissionalismo. É uma linha rara hoje em dia no meio?
Fabrício: Não sei. No mundo, as coisas andam meio perdidas. As pessoas deixam de ser quem são para agradar fulano, para estar empregado aqui ou ali. Infelizmente, alguns princípios foram trocados para você se enquadrar no sistema, para, entre aspas, se dar bem vida também. Eu sempre tive meu jeito de ser. Vivi minhas fases. Vivi minha fase de adolescência, aquela coisa meio rebelde, de loucura. Hoje estou em uma fase mais família, mais profissional. Mas sempre do meu jeito, nunca querendo agradar a ninguém, e sim pensando em ser uma pessoa melhor, um exemplo para meus filhos, respeitando o homem lá de cima, que esse eu tenho medo realmente de decepcionar. Por isso, procuro ser profissional, aproveitar o emprego que eu tenho, que são poucos que têm. Uma diferença enorme para o resto da nossa população, em termos de salário. Procuro viver isso de modo muito intenso, porque sei que um dia isso vai acabar.

Sergio Barzaghi/Gazeta Press

Como bom roqueiro que é, volante são-paulino espera que Morumbi esteja um inferno para os atleticanos

GE.net: Que fases de loucura você teve?
Fabrício: Ah, você sempre tem. Quando você não tem ninguém, é só você, sem esposa, filho… É bem diferente de quando tem outras pessoas para cuidar. Não que eu não tenha tido preocupação com meus pais, minha família. Sempre tive. Mas, sozinho, com companhias que pensam mais ou menos do mesmo jeito, você faz muita loucura. Todo o mundo faz, quando é mais novo.

 

GE.net: O Rogério Ceni é uma das pessoas que mais te elogiam. Você já era amigo dele antes de vir para o São Paulo?
Fabrício: Não. Sempre fui admirador. A partir do momento em que comecei a focar mais minha carreira, lá pelos 24, 25 anos, quando fui para o Japão, aprendi muito com aquele povo. Foi muito legal a experiência. Você aprende a ser profissional, correto. A não fazer aos outros o que você não quer que façam a você. Isso funciona muito bem no Japão. Comecei então a valorizar minha profissão, comecei a ter certas pessoas como espelho. E não tem como falar dos grandes profissionais do futebol, do esporte, e não falar de Rogério Ceni. Fico feliz de ter confirmado isso aqui. Minha impressão não mudou. Às vezes, você se decepciona, não foi o caso.

GE.net: Ele disse outro dia que é seu parceiro de rock.
Fabrício: A gente gosta, né? Rock and roll é muito legal. É um estilo de música que me deixa para cima, alto astral. Gosto dessa coisa de poder se expressar, de ser do seu jeito e não ligar para o que os outros pensam. O rock and roll sempre esteve nessas batalhas, da época da ditadura, da época de querer se expressar. Sempre achou um jeitinho de pôr algumas coisas nas suas letras, de mandar um recado. É por isso também que gosto desse tipo de música.

GE.net: Você vai para o estádio ouvindo rock? Sabe tocar guitarra?
Fabrício: Escuto rock no celular indo para os jogos, sim. É uma música que me deixa na adrenalina, elétrico, ligado. Meu estilo de jogar é assim. Tem que entrar ligado, com emoção, paixão. Senão, não faz sentido jogar por jogar, sem competir, sem tentar a vitória. Agora… Eu tenho vontade de tocar guitarra. De vez em quando, pego a do Rogério para brincar na concentração. Eu toco violão, mas é mais para mim, para minha mulher, para as pessoas que realmente me amam e conseguem ficar do meu lado nessa hora (risos).

GE.net: De quais bandas você gosta. Curte AC/DC?
Fabrício: Curto pra caramba. Curto também Beatles, Rolling Stones, Elvis. Todo esse pessoal. Gosto de uma coisinha mais pegada, que é Motorhead, Ramones… E gosto muito de nacionais. Desde Raul Seixas, Renato Russo, Skank, Nando Reis, Titãs a… Não que eu só goste de rock. Gosto também de sertanejo, escuto alguns pagodes, mas o que eu mais gosto é de rock.

GE.net: Então deve gostar de ouvir Hells Bells (canção do AC/DC) na subida do vestiário do Morumbi.
Fabrício: Isso é legal, né? Às vezes, eu fico pensando… Ainda não tive oportunidade de entrar no Morumbi lotado, com 50 mil, 60 mil pessoas, para jogar a favor. Aquilo realmente vira um inferno. Se o jogador realmente vestir a camisa e jogar junto com a torcida, vira um inferno para os adversários.

GE.net: Acha que vai estar assim na quarta-feira?
Fabrício: Acho que sim. A torcida vai comparecer, empurrar. Ela gosta desse tipo de competição. Ela acredita na história do seu time, na camisa. Nós, jogadores, temos que pegar isso da torcida e levar para dentro de campo. Essa alma, essa vontade de querer nosso clube sempre no topo. A gente precisa disso para conseguir essa vitória contra o Atlético.

GE.net: E se não passar de fase, não tem mais Hells Bells na Libertadores.
Fabrício: Mas isso vai continuar para sempre, não pode tirar. Tem tudo a ver. A gente que gosta de rock and roll entra nessas paranoias, meu. É muito legal. Acelera o jogador, você incorpora e tenta fazer daquele estádio, com milhares de torcedores, realmente um inferno. Tenta fazer os sinos do inferno baterem para os adversários (risos).

 

Fonte: Gazeta Esportiva

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