Promessa de esforço: Cañete diz que não quer ‘uma Portuguesa’ para si

O meia argentino Marcelo Cañete, de 23 anos, voltou ao São Paulo e já teve, logo na estreia do time no Paulistão, a primeira chance. Saiu do banco de reservas, entrou no intervalo e foi talvez o melhor são-paulino em campo na fraca exibição diante do Bragantino, na derrota por 2 a 0. O suor de Cañete se justifica nas palavras: o argentino reconhece os erros que cometeu nos últimos anos e diz que irá se esforçar para que não passe o resto da carreira em clubes de menor expressão, como a Portuguesa, ao qual ele foi emprestado em 2013.

Cañete não menospreza a Portuguesa, que hoje briga fora de campo para não ser rebaixada à Série B. É cuidadoso com as palavras para dizer que a Lusa é um clube a se respeitar. No entanto, deixa clara a ambição maior que tem para a continuidade da carreira. Na semana passada, antes mesmo da estreia no Paulistão, ele falou o que pensa ao UOL Esporte.

Na pré-temporada do São Paulo, Cañete foi quem mais se destacou. Talvez porque fosse de quem menos se esperava. A eterna promessa por quem o São Paulo pagou R$ 4,5 milhões ao Boca Juniors em 2011 nunca vingou. Também devido às graves lesões que teve. No ano passado, ele ganhou oportunidades de Ney Franco, mas se descuidou. Passou a ter problemas com o peso e, segundo a comissão técnica, deu algumas mostras de falta de comprometimento.

Ele reconhece. Admite que não se alimentava da maneira correta e que não tinha hábitos saudáveis. Com discurso convincente, diz também que sabe que esta é sua última chance no São Paulo, e que se esforçará como nunca para conquistar lugar no São Paulo. Confira abaixo a entrevista:

UOL Esporte: Como você recebeu o convite do São Paulo para que fosse reintegrado? Causou surpresa?
Marcelo Cañete: Na verdade eu fiquei agradecido porque o São Paulo voltou a me dar uma chance para voltar e me adaptar ao clube. Já faz tempo que estou aqui e ainda não consegui ter um padrão alto de jogo. Não consegui mostrar minha qualidade. Acho que este ano é meu ano. Vou trabalhar duro pra conseguir conquistar títulos no São Paulo, que é um desejo muito grande que sempre tive. Estou agradecido pela chance que me deram.

UOL Esporte: Como foi a conversa com a diretoria quando você foi reintegrado? O que disseram os dirigentes?
Marcelo Cañete: 
Eles confiam em mim, confiam nas minhas qualidades e passaram confiança. É importante o respaldo da diretoria, mas depende de mim. Passei muito tempo no Brasil, estou adaptado.

UOL Esporte: Até hoje você teve algumas chances no São Paulo, mas não conseguiu se firmar. O que te motiva a pensar que dessa vez será diferente?
Marcelo Cañete: 
Sou novo ainda, tenho muito para aprender. Acho que se eu não consegui jogar aqui no São Paulo foi pela imaturidade. Agora vejo a realidade da Portuguesa, e o São  Paulo é totalmente diferente. E eu não quero isso para mim. Quero o melhor. Mas tenho que trabalhar duro para isso, tenho que me focar. Tenho certeza de que, se eu estiver bem, vou conseguir uma vaga no time.

UOL Esporte: E foi nesse período que passou emprestado à Portuguesa que percebeu essa imaturidade?
Marcelo Cañete:
 Você percebe a realidade de um clube e do outro. Sente a diferença e a saudade de um clube grande como o São Paulo. Não estou falando que a Portuguesa é um clube pequeno, mas a realidade é totalmente diferente. E eu não quero isso pra mim. Eu quero o melhor, e para isso tenho que trabalhar muito.

UOL Esporte: O que mudou em você de um ano para cá?
Marcelo Cañete: 
Mudei muito. Eu sinto muita diferença. Você sabe que a carreira de jogador é curta, então não pode perder tempo. Quando tem chance, tem que aproveitar, ainda mais quando está em um clube grande. Você fica pensando e percebe que tem que aproveitar cada oportunidade que tem. Aqui, no São Paulo, tem tudo. Só depende de você. Se não aproveita, acontece o que aconteceu comigo. Vai ser emprestado ou passar despercebido. Conversei muito com minha mulher, a gente sabe que eu tenho tudo para conquistar o que o São Paulo quer. A gente sonha, pensa, acorda o dia todo pensando no sucesso. Esse tempo que fiquei fora do São Paulo foi para aprender e pensar o que quero para o meu futuro.

UOL Esporte: Desde que você chegou ao São Paulo, em 2011, todos os técnicos que puderam te deram uma oportunidade no time. O que fez com que você não conseguisse se firmar?
Marcelo Cañete:
 É a maturidade. Eu aprendi. Na época, quando o Ney Franco estava, eu tive a chance de mostrar um pouquinho e depois não deu certo. Nesse período eu pensava diferente, achava que fazendo um treino bom eu já alcançava. Não era assim. Você precisa se esforçar muito mais. Mostrar, trabalhar. Eu achava que com um treinamento bom era para eu jogar. E não. Era todo dia, toda a hora, mostrar a cada minuto. Eu aprendi. Minha cabeça é totalmente diferente agora. Me cuido mais na comida, durmo mais cedo.

UOL Esporte: E quem te ajudou a perceber que precisava dessa mudança de pensamento e de hábitos, até na alimentação?
Marcelo Cañete: 
Minha mulher, empresário, o próprio clube. Você não pode perder tempo. Os caras te dão tudo, você não dá resposta, você pensa: “não posso perder mais tempo”. Tenho certeza que este vai ser meu ano e vou trabalhar pra isso.

UOL Esporte: Quando você saiu para ser emprestado à Lusa no ano passado, pediu desculpas ao torcedor. Sente-se em dívida com o São Paulo pelo alto investimento que fizeram na sua contratação?
Marcelo Cañete: 
Eu sou um cara que chega a um lugar e quer ganhar tudo. Cheguei ao Brasil e não tive chance de conseguir títulos ou mostrar meu futebol. Sentia um vazio. Agora estou trabalhando para conseguir tudo que eu pensava. Vou me matar pela camisa do São Paulo.

UOL Esporte: Você falou que toma mais cuidado com a alimentação. No ano passado, Ney Franco disse que você estava acima do peso. O que aconteceu?
Marcelo Cañete: 
Me descuidei. Estava acima do peso. Mas foi também pela falta de continuidade de jogo, às vezes do treinamento. Mas é de cada um, poderia ter percebido para treinar mais, me cuidar mais. Me descuidei. Agora vai ser totalmente diferente.

UOL Esporte: Você encara essa reintegração como uma última chance no São Paulo, apesar de ter contrato até o fim de 2015?
Marcelo Cañete: 
Tenho certeza que sim. É minha ultima chance, mas não vou deixar passar, não. Estou focado para conseguir coisas muito importantes nesse clube, pelo qual na verdade eu sou muito agradecido.

UOL Esporte: Em 2011 você foi contratado para ser um meia que o São Paulo não tinha. Hoje a equipe tem Paulo Henrique Ganso e Jadson competindo por uma vaga, sendo que até pouco tempo ambos defendiam a seleção brasileira. Como encara a concorrência?
Marcelo Cañete: 
Eu estou consciente das qualidades dos jogadores que tenho na minha frente hoje. Mas também sei das minhas qualidades. Sei que esta difícil. Também vejo lado positivo, que se eu não consigo jogar de “enganche”, meia, também posso jogar de ponta ou atacante. Gosto disso, de me movimentar. Vou lutar pelas duas vagas. Tanto na frente ou como meia.

UOL Esporte: Quando você treina e olha para o time, percebe que será mais fácil competir pela vaga em uma das pontas?
Marcelo Cañete:
 É. Sempre pensei nisso no tempo que estive fora. Falava que se um dia voltasse brigaria por essa vaga, na qual o São Paulo está sofrendo. Todo mundo vê que desde que saiu o Lucas o time não consegue mais se destacar. Se eu consigo jogar por esse lado? Vou tentar fazer o melhor de mim. Tenho qualidades para tentar cumprir essa função.

UOL Esporte: E o Muricy chegou a falar o que espera de você, taticamente?
Marcelo Cañete: 
Não, ele conversou comigo quando cheguei, pediu trabalho. Disse que me viu entrar contra o Santos, na Vila Belmiro, quando o São Paulo perdeu por 3 a 1 [no Paulistão de 2013], disse que joguei bem. Entrei na ponta direita naquele jogo. Ele só pediu trabalho, seriedade, e vou trabalhar duro para conseguir meu espaço.

UOL Esporte: Você trabalhou com o Clemente Rodríguez, lateral esquerdo, no Boca Juniors. Por que acha que seu compatriota, que há pouco era titular da seleção argentina, não conseguiu se destacar no São Paulo?
Marcelo Cañete: 
Acho que lateral brasileiro sempre foi o melhor do mundo. Todo mundo sabe disso. Chega aqui um lateral argentino, aqui no Brasil é complicado. Acho que é tempo um pouco. Adaptação. Ele é muito experiente, sabe chegar ao ataque, defende bem. Ele vai, volta e marca. É o tempo. Joguei com ele no Boca, ele dá opção, vai para cima. É tempo de adaptação. Não é fácil, não. No Brasil é totalmente diferente. É outra qualidade.

UOL Esporte: Para a Copa do Mundo, vê a Argentina em nível superior ao Brasil?
Marcelo Cañete: 
Acho que não, hein? Para mim os dois vão chegar à final, mas o Brasil está um pouco acima. Está mais compacto. Argentina tem que melhorar um pouco, principalmente na defesa. Do meio para cima está bem, mas a defesa é um pouco fraca. Tem um tempo para melhorar.

Fonte: Uol

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

*