Pela 1ª vez em 27 anos, SP e Ceni ‘celebram’ aniversário da relação afastados

Sete de setembro é um dia sagrado para o São Paulo. Marca o início da trajetória de Rogério Ceni, aprovado em uma peneira do clube em 1990 no feriado da Independência. O resto é história, e a cada ano a coletividade celebrava a data de maneira especial. Este ano, no entanto, o aniversário não chega em um clima de festa. Além do Tricolor viver situação dramática no Campeonato Brasileiro, brigando contra o rebaixamento, a relação do ex-goleiro com a instituição que o alçou à eternidade é a mais distante possível nestes 27 anos.

Demitido do cargo de treinador em 3 de julho após apenas seis meses de trabalho, em uma reunião de minutos no Morumbi, Ceni não voltou mais ao clube. O contato com as pessoas com quem tentou desenvolver um trabalho de longo prazo, como prometido pelos dirigentes, foi tímido. Algumas mensagens de texto para profissionais da comissão técnica, um vídeo de agradecimento aos jogadores nas redes sociais, no qual também desejava sorte no futuro. No fundo, mágoa e tristeza que poucas vezes o ex-goleiro, jogador mais vitorioso da história do São Paulo, sentiu.

Rogério Ceni foi viajar depois da saída prematura do comando do São Paulo. Passou um período nos Estados Unidos, outro na fazenda que tem em Mato Grosso, onde sempre foi seu refúgio para as conquistas e decepções na carreira futebolística. Agora, está de volta à capital paulista, mas ainda sem futuro definido, como confidenciou a pessoas próximas.

O processo de saída foi traumático. Além de a cúpula são-paulina abortar o ousado projeto que discutira com o ídolo desde o fim do ano passado, com a justificativa dos maus resultados que levaram o time à zona do rebaixamento no Brasileiro, o processo arranhou a imagem de Rogério Ceni. O anúncio da demissão, por exemplo, resumiu-se a uma nota oficial de sete parágrafos no site do clube. Continha uma declaração do presidente Carlos Augusto de Barros e Silva:

– O respeito e o reconhecimento pela grandeza de Rogerio Ceni, como figura histórica desta instituição, serão eternamente celebrados.

Mas não foi isso que deixou Rogério Ceni mais chateado. No dia seguinte à demissão, a diretoria concedeu entrevista coletiva no CT da Barra Funda para falar sobre a decisão e o presidente Leco disse que a cúpula não tinha nenhuma responsabilidade, já que havia proporcionado tudo ao “novato” treinador. A declaração, obviamente, não caiu bem e gerou revolta até nos torcedores, que viram o projeto de seu maior ídolo terminar de maneira catastrófica.

Apesar da decepção, Rogério tem procurado se manter alheio ao clube. Está resguardado. Não quer dar declarações. Ainda não concedeu nenhuma entrevista depois da saída. Quem o conhece diz que ele teme que qualquer manifestação sua atrapalhe ainda mais o time no momento de dificuldade. Mas no São Paulo há a certeza de que, quando ele falar, não poupará quem foi responsável pela sua demissão. Houve desacertos com Vinicius Pinotti, diretor executivo que foi figura determinante para a quebra do contrato, e que havia sido um dos maiores incentivadores da contratação do ex-goleiro no ano passado. Eles eram muito próximos.

São Paulo e Rogério Ceni ainda precisam conversar por conta da multa rescisória que o goleiro tem a receber, no valor de R$ 5 milhões. O montante gera críticas internas à diretoria, que, na visão de conselheiros, não deveria ter estipulado algo tão alto para um técnico em começo de carreira, mesmo se tratando do ídolo. Foi um pedido de Ceni, preocupado com a situação política do clube. Ele não abrirá mão do que tem a receber.

O aniversário de 2017 não é nada feliz, ainda mais porque sempre foi celebrado de forma especial pelo clube, o que não deve acontecer desta vez. No ano passado, por exemplo, o São Paulo publicou uma entrevista exclusiva com o Mito em seu site oficial, para não deixar passar em branco o primeiro 7 de setembro com Rogério fora do clube, já que encerrou a carreira em 2015. Na época, ele estava na Inglaterra estudando para ser técnico e a entrevista trazia detalhes da preparação do futuro treinador da equipe. Já em 2011, houve uma grande festa especial para o ídolo, que completou 1000 jogos pelo clube. O Tricolor venceu o Atlético-MG com Mprumbi lotado e assumiu a liderança do Campeonato Brasileiro.Em 2015, em comemoração do 25º aniversário, o time jogou com #Mito25 no peito do uniforme.

Já o momento atual talvez só se compare a 2001, ano do polêmico afastamento do ex-goleiro por conta do episódio da proposta do Arsenal (ING). Também em julho, ele foi suspenso por 28 dias pelo então presidente Paulo Amaral, em decisão que faz do dirigente persona non grata no clube até hoje. Rogério venceu a briga depois, e em setembro, na data sagrada, já estava de volta ao dia a dia do clube. E depois se consolidou como um dos maiores ídolos da história. Resta saber se desta vez ainda haverá uma volta por cima.

 

Fonte: Lance

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