Em casa, Cañete banca espião e sente falta das peladas de Lugano

Assim como boa parte da torcida do São Paulo, Cañete também morre de saudade de Lugano. Mas não é do zagueiro uruguaio, e sim do bairro onde nasceu em Buenos Aires, capital da Argentina. O meia, xodó dos tricolores mesmo com poucas oportunidades na equipe, terá uma função importante na partida decisiva desta quinta-feira contra o Arsenal. Reserva, ele conhece bem as artimanhas dos compatriotas, e avisa os companheiros:

– Eles vão querer brigar, ir para cima do juiz, tirar a gente do jogo. É a tática deles.

Cañete chegou ao São Paulo no meio de 2011, mas teve uma série de lesões. Só em 2013 consegue atuar sem ser atormentado pelos problemas médicos. Em quase dois anos de Brasil, muita coisa mudou na vida do meia. Ele se tornou mais ofensivo dentro de campo, mais pacato fora dele, criou uma relação de carinho e gratidão com o time paulista, mas não se esqueceu das peladas nas ruas do bairro em que cresceu.

Mesmo depois de se profissionalizar no Boca Juniors, onde foi reserva de Riquelme e apontado, inclusive pelo astro, como seu substituto, Marcelo Cañete reunia os amigos, fazia da parede de sua casa o gol, e jogava como se fosse um garoto. Eram vários tipos de brincadeira, sempre com a bola nos pés. Seus dois desejos na volta ao país, onde o Tricolor vai tentar melhorar sua situação na Libertadores? Vencer a partida e ter tempo para matar a saudade do perigoso bairro de Lugano.

– Gostaria de visitar a família, os amigos. Graças a Deus estou feliz no Brasil, tenho tudo que quero, só estou procurando tentar jogar. Sinto falta dos amigos, de passar um aniversário com eles, mas voltar para sua terra e jogar a Libertadores numa situação como está o São Paulo, que precisa ganhar, é um clima diferente, uma sensação muito linda.

O jogador deixou seu país aos 20 anos. Pediu para ser emprestado à Universidad Católica do Chile, já que não via muito futuro no Boca Juniors em razão da presença do amigo e exemplo Riquelme. Quando era garoto, Cañete assistia aos jogos da equipe mais popular da Argentina e observava o estilo de jogo do ídolo para se inspirar. Já nas categorias de base, entretanto, tentou acrescentar controle de bola em velocidade. Tudo porque um craque brasileiro também conquistou sua admiração.

Eleito melhor jogador do mundo em 2007, pelo Milan, Kaká impressionava o jovem argentino. Nos treinos, ele trocou o consagrado “toco y me voy” pelas arrancadas. Uma idolatria que, curiosamente, pode ajudá-lo a conquistar uma posição no atual time do São Paulo.

Embora admita que deseja encerrar a carreira no Boca, Cañete, aos 22 anos, já tem espaço reservado para o Tricolor em seu coração. Ele diz agradecer a Deus todos os dias pela oportunidade de estar num clube que o acolheu durante as lesões, e fala sem gaguejar o nome de todos os profissionais que cuidaram dele diariamente: Sasaki, Alê, Betinho, Rosan, Cilmara e Roberta. Agora, só falta jogar, e, para isso, ele sabe que adaptações serão necessárias. Cañete precisa ser mais atacante, como Kaká, do que meia, como Riquelme. O motivo? A concorrência.

– Sei que na minha posição de meia é muito difícil porque o Jadson e o Ganso são jogadores de muita qualidade, de nome. Então observo os atacantes nos treinos. Estou capacitado para fazer essa função, estou bem, tenho de me adaptar à posição que o time precisa, e se isso me der a possibilidade de jogar, vou fazer.

Sempre que está no banco e é chamado por Ney Franco para entrar no jogo, o camisa 20 provoca furor nas arquibancadas do Morumbi. Os torcedores, insistentemente, perguntam por ele, e leem absolutamente tudo que se fala a seu respeito. Uma relação que nem mesmo o jogador é capaz de entender. Para ele, o rótulo de “novo Riquelme” ajudou a aguçar a curiosidade sobre seu estilo de jogo. Ele garante que a comparação nunca lhe fez mal, pelo contrário, até dava tranquilidade nas partidas.

Mesmo assim, consciente, Cañete sabe que ainda precisa aparecer para os torcedores. No Brasil e na Argentina.

– Acho que querem saber qual é meu potencial, meu estilo. Faz tempo que estou aqui e ainda não mostrei isso para a torcida. Então eles têm curiosidade de saber qual é meu jogo. E na Argentina também, eu joguei muito pouco, peguei uma época do Boca que não foi muito boa. Eles também ficaram curiosos.

Apesar do péssimo resultado da última quinta-feira, o empate contra o Arsenal no Pacaembu, Cañete acha que o São Paulo fez uma boa partida, e enaltece a postura defensiva dos adversários. Para ele, a equipe argentina terá de se abrir mais em casa, até porque soma apenas um ponto na competição, e essa poderá ser a chave para que o Tricolor tenha um rendimento melhor. O meia tem certeza de que, assim como o Tigre, o Arsenal tentará tumultuar a partida e provocar expulsões de jogadores brasileiros, em reconhecimento da superioridade técnica.

Tudo que Cañete gostaria é poder entrar na partida, nem que seja no segundo tempo, e ajudar o São Paulo a sair com a vitória. Um passo bem pequeno na longa caminhada até atingir seu sonho maior: defender a seleção argentina.

– Sou realista, primeiro tenho de tentar ser campeão no São Paulo com um rendimento muito bom. A seleção ainda está muito longe, mas não é impossível. Sou muito jovem, e vou lutar para isso. Tenho tempo.

 

Fonte: Globo Esporte

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