De estádio a reforços: a eterna briga entre Palmeiras e São Paulo ressurge

A polêmica negociação envolvendo o atacanteAlan Kardec fez renascer a antiga rivalidade entre Palmeiras e São Paulo. Uma disputa muito mais política do que apenas o encontro no gramado entre dois gigantes do futebol brasileiro. Vizinhos na Barra Funda, Verdão e Tricolor nunca fizeram as pazes e devem continuar em atrito por mais um longo tempo com a iminente ida do jogador para o Morumbi.

Assim como o presidente Paulo Nobre citou na entrevista coletiva de segunda-feira, os clubes brigam desde os anos 40. E não foi apenas uma desavença por estarem interessados no mesmo atleta. Os palmeirenses acusam os são-paulinos de tentarem tomar posse do estádio Palestra Itália, algo negado veementemente por historiadores e dirigentes são-paulinos.

Montagem - Carlos Miguel Aidar e Paulo Nobre São Paulo x Palmeiras (Foto: Editoria de Arte)Carlos Miguel Aidar e Paulo Nobre: duelo por Kardec acirra rivalidade entre vizinhos

Durante a Segunda Guerra Mundial, o Brasil se declarou contrário aos países do Eixo, formado por Alemanha, Itália e Japão. O presidente Getúlio Vargas tomou uma série de medidas para restringir a ação desses países no território nacional. Por conta disso, e para escapar da revolta do povo, em 1942, o Palestra Itália foi obrigado a mudar seu nome para Palmeiras e, assim, seguir em atividade. Curiosamente, o primeiro jogo com a nova denominação foi justamente contra o São Paulo, e valendo título paulista. O Verdão venceu.

Uma segunda ação seria confiscar os bens de pessoas e entidades com qualquer ligação ao grupo de alemães, italianos e japoneses. Foi aí que começou o problema entre os clubes. Em 1943, os palmeirenses acusaram dirigentes do São Paulo de articular um golpe nos bastidores para tomar posse de seu estádio, o que não se confirmou.

O fato é que o São Paulo estava em busca de um local para mandar seus jogos. Tanto que, um ano depois, o Tricolor comprou o Canindé do clube alemão Deutsch Sportive. Como o projeto de construção da Marginal Tietê mudaria o terreno do local, a área foi vendida para a Portuguesa e um terreno no Morumbi acabou adquirido.

O tempo passou, mas as polêmicas envolvendo Palmeiras e São Paulo continuaram. Nas últimas décadas, vários atritos aconteceram. Em 93, o Verdão contava com os milhões da Parmalat para montar um elenco forte e sair da fila de títulos. A multinacional italiana comprou do Tricolor o passe do zagueiro Antônio Carlos usando o Albacete, da Espanha, como ponte. Pouco tempo depois, ele vestia a camisa verde.

A estratégia se repetiu em 1995. O Verdão conseguiu contratar o lateral-direito Cafu graças a uma manobra contratual. Desta vez, o clube envolvido foi o Zaragoza, que não poderia vendê-lo a uma outra equipe paulista. A solução encontrada pelo Palmeiras e pela parceira foi registrá-lo no Juventude, também patrocinado pelos italianos. Rapidamente, Cafu já brilhava no Palestra Itália. Nas duas negociações, José Carlos Brunoro, atual diretor executivo do Verdão, trabalhava no clube como diretor de esportes da empresa italiana.

O São Paulo também teve seus momentos de aplicar um “olé” no rival. Em 2005, o volante Richarlyson chegou a acertar salários e fazer exames médicos no Palmeiras, mas acabou no Tricolor. Antes de assinar contrato, o jogador recebeu uma proposta salarial maior da diretoria são-paulina e decidiu pular o muro que divide os centros de treinamentos dos clubes na Barra Funda.

Menos de um ano depois, foi a vez do lateral-direito Ilsinho seguir o mesmo caminho. Ele despontava como uma grande revelação na base do Palmeiras. No entanto, como estava com o contrato no fim, acertou com Tricolor sem que o clube formador recebesse qualquer valor. Por muito pouco, os são-paulinos não levaram também o goleiro Diego Cavalieri, que decidiu aceitar a oferta de renovação.

As disputas continuaram recentemente. O atacante Willian José e o zagueiro Edson Silva estavam perto do Palmeiras e fecharam com o São Paulo. Do outro lado, o Verdão levou recentemente o meia Marquinhos Gabriel, desejado pelo Tricolor.

Depois da disputa por Alan Kardec, os clubes estão prestes a travar mais uma batalha. O São Paulo tem interesse na contratação do volante Wesley. O jogador está vinculado ao Palmeiras até fevereiro, mas pode assinar um pré-contrato com qualquer clube a partir de agosto. A guerra está só começando.

Fonte: Globo Esporte

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