As principais causas da perda de paciência do torcedor com Ceni

Dia 8 de dezembro de 2016, o presidente do São Paulo, Carlos Augusto de Barros e Silva, apresentou Rogério Ceni, o maior ídolo da história tricolor e goleiro aposentado desde 2015, como técnico do elenco de futebol profissional do clube. Já à época, quando as especulações sobre a possibilidade tomaram os noticiários, constatou-se uma divisão notória até mesmo entre os próprios torcedores são-paulinos. Dois eram os receios: a falta de experiência de Rogério Ceni no cargo e o risco de um ícone do clube ter sua imagem arranhada. Seis meses depois, o Mito, como é carinhosamente chamado pelos fãs, está longe de ser uma unanimidade. As críticas, antes ponderadas, agora esbravejam contra Ceni, que se vê diante de uma situação inédita em toda vida futebolística.

Sob o comando do atual treinador, o São Paulo disputou 33 partidas: venceu 14, empatou 10 e perdeu nove. Foram 54 gols marcados e 39 sofridos. A equipe foi eliminada pelo Cruzeiro na quarta fase da Copa do Brasil, caiu na semifinal do Campeonato Paulista frente ao Corinthians e amargou um dos maiores vexames de sua história ao ser despachada pelo modesto Defensa y Justicia, da Argentina, em pleno Morumbi, logo na primeira fase da Copa Sul-Americana. No Campeonato Brasileiro, já são quatro rodadas sem vitória. O time é apenas o 14º colocado após nove jogos, com 10 pontos, só um a mais que o primeiro integrante da zona de rebaixamento.

Rogério Ceni não gosta de ser avaliado apenas pelos resultados. Esse é praticamente o mantra do técnico a cada entrevista coletiva desde que assumiu o cargo. Entretanto, apesar da obviedade do peso da ausência de sucesso nas metas estabelecidas, as críticas, já em tom elevado, que pairam sobre o trabalho de Rogério Ceni não se limitam apenas aos “números frios”, como o próprio comandante tricolor denomina.<p>
O crédito e a tranquilidade para trabalhar que fora resguardado até aqui em função do escudo constituído pela idolatria do torcedor começam a apresentar vulnerabilidade. Pela primeira vez, Rogério Ceni se vê ameaçado e questionado por boa parte daqueles que sempre o aplaudiram de pé. Os são-paulinos têm se manifestado, e muito. A Gazeta Esportiva listou as principais reclamações e observações sobre o trabalho de Rogério Ceni.

DEMORA PARA DEFINIR UMA FORMA DE JOGAR
Rogério Ceni iniciou seu trabalho à frente do São Paulo apostando em um esquema com três zagueiros. Mas, bastou uma derrota para o Osasco Audax, logo em sua primeira partida oficial, para o técnico rever seus conceitos. Após meses usando a linha de quatro na maior parte dos jogos, Ceni voltou a armar a equipe com três beques de ofício, mas dificilmente chega a terminar a partida dessa maneira. A equipe já foi ultra-ofensiva e depois passou a jogar de forma mais precavida.

Essa alternância constante de estratégias, sistemas, escalações, e as inúmeras vezes que jogadores acabam sendo utilizados fora de sua função de origem, como os casos recentes de Militão, Rodrigo Caio, Thiago Mendes, Marcinho, Wellington Nem e Lucas Pratto, faz com que Ceni pareça perdido e sem convicção. Até agora, o São Paulo não encontrou um padrão de jogo e sequer tem um time titular definido.

DIRETORIA ATRAPALHA COM PLANEJAMENTO MAL FEITO
Até mesmo os mais revoltados com o trabalho de Rogério Ceni têm uma ponderação a fazer. O planejamento mal feito pela diretoria comandada por Leco tem influência direta na situação da equipe. Afinal, desde o início do ano, o clube já perdeu, seja por venda, empréstimo ou dispensa, Breno, Wellington, Lyanco, Luiz Araújo, David Neres e Neilton, e também está prestes a vender Maicon e ver João Schimdt deixar o grupo. Por outro lado, chagaram Neilton (que já figura nas duas listas), Wellington Nem, Sidão, Cícero, Lucas Pratto, Jucilei, Marcinho, Morato, Denilson, Maicosuel, Thomaz, Jonatan Gómez, e ainda estão muito perto de um acerto Petros, Matheus Jesus e Arboleda.

Todo esse entra e sai de jogadores, as incertezas quanto ao futuro, além dos problemas rotineiros de todo time com lesões e suspensões, dificultam, na prática, a missão de Rogério Ceni. Aliás, na última quarta o técnico surpreendeu ao revelar que só conhece um de todos os jogadores que deve receber nos próximos dias como ‘presentes’ da diretoria.

CONTRADIÇÕES ENTRE DISCURSO E ESCOLHAS
Nem sempre o que Rogério Ceni diz é o que será visto em campo. E isso tem incomodado muitos torcedores. No último clássico contra o Corinthians, por exemplo, o treinador são-paulino utilizou quatro zagueiros no jogo (Militão, Lucão, Maicon e Douglas). Douglas, que não entrava em campo há quase três meses, foi titular, enquanto Lugano sequer entrou no segundo tempo. Tudo isso dias depois de Ceni pedir a renovação de contrato do uruguaio. O ato causou estranheza até mesmo dentro da diretoria.

No mesmo jogo, Rogério Ceni apostou na dupla de centroavantes Lucas Pratto e Gilberto desde o início. Duas rodadas depois, porém, o treinador, ao tentar explicar o motivo das poucas oportunidades dadas a Lugano, acabou citando a disputa entre Pratto e Gilberto e argumentou que não poderia escalar os dois juntos, exatamente como ele havia feito em Itaquera.

Mais controverso ainda foi Rogério Ceni preterir Gilberto, artilheiro do time na temporada, para promover duas estreias durante a derrota para o Atlético-PR: Denilson e Brenner. O último tem 17 anos e havia feito apenas dois treinos junto ao elenco principal do São Paulo.

USO EXCESSIVO DAS ESTATÍSTICAS E DIFICULDADE EM ASSUMIR ERROS
Que Rogério Ceni tem uma personalidade forte não há dúvida. Isso já foi visto como virtude em diversos momentos da carreira do ex-goleiro, mas também já foi apontado como o principal fator de impedimento para que Ceni assumisse suas falhas na meta são-paulina. Como técnico, esse aspecto pouco mudou. Mesmo em momentos críticos, Rogério Ceni insiste em buscar argumentos positivos sobre o próprio trabalho, costuma fazer uma análise otimista após derrotas e utilizou em demasia as estatísticas para se sustentar.

Essa postura ganhou evidência quando o treinador chegou a utilizar número de escanteios para defender o desempenho de seu time na sequência de uma eliminação para o Corinthians. Na mesma entrevista, Ceni aprovou o próprio trabalho após uma breve análise. Mas o auge da repercussão negativa das entrevistas do comandante tricolor se deu depois da desclassificação da equipe na Copa Sul-Americana perante ao Defensa y Justicia, em pleno Morumbi. Na ocasião, Ceni não qualificou o revés como vexame e minimizou o confronto que ficará marcado de forma negativa para sempre na história do clube.

Desde então, ciente da péssima repercussão que suas entrevistas vinham causando, inclusive entre os são-paulinos, Rogério Ceni decidiu diminuir a dose de uso de estatísticas para justificar sua visão das partidas. As análises, no entanto, seguem positivas em qualquer circunstância, como foi visto depois do quarto jogo seguido sem vitória da equipe no Campeonato Brasileiro.

CRÍTICAS PÚBLICAS A JOGADORES DO ELENCO E ATÉ A TITE
Em sua apresentação, apesar da inexperiência no cargo, Rogério Ceni admitiu que administrar um grupo de pessoas que pensam diferente e manter todos em harmonia é uma das principais atribuições de um técnico e talvez seu maior desafio. Quando se deparou com uma divergência, porém, o ex-goleiro acabou causando mal-estar dentro do vestiário, chegou a criticar Rodrigo Caio em público e ainda questionou Tite, técnico da Seleção Brasileira.

O atitude se repetiu no último domingo. Lucão desabafou aos microfones e revelou que sairia do clube por falta de clima, já que a torcida não vinha tolerando suas falhas. Ao invés de tentar contornar a situação de seu titular da zaga, Ceni condenou as palavras do jovem revelado em Cotia e praticamente sacramentou a saída do atleta. A postura de Ceni nesse caso pode ser ideal para quem está na arquibancada, mas não costuma ser bem vista pelo elenco.

 

Fonte: Gazeta  Esportiva

10 comentários em “As principais causas da perda de paciência do torcedor com Ceni

  1. Parabéns, Vagner e Thal Calo!
    Comentários mais que perfeitos sobre o que, infelizmente, está acontecendo com nosso treinador. Uma simples mudança de comportamento (ele já não é mais um jovenzinho que precise ficar se achando) já melhoraria e muito seu relacionamento com nós, torcedores; com imprensa e, principalmente, com seus jogadores, que não lhe questionam na cara mas que, entre eles, devem comentar toda a empáfia do “patrão”…

  2. Paulo…. o editorial da Gazeta Esportiva é todo corintiano…

    Não acredito que o torcedor estava feliz, mas também não acho que todos culpam o Rogério.

    Dos São Paulinos que conheço 8 em 10 apoiam o Rogério ainda… e concordam que ele é teimoso assim como Tele e Muricy quando foram técnicos campeões do SP. A falta de paciência de hoje é fruto dessa diretoria pilantra que tem deixado nosso time sem títulos desde 2012…

  3. Sem jogadores não se faz um time…

    Essa torcida deveria ir atras dos verdadeiros culpados… Outleco e os diretores carniça que venderam Neres, Araujo e Lyanco que tranquilamente seriam titulares do Rogerio…

    Enquanto isso Wesley, Bufarini, Bruno, Maicon, Douglas continuam aí no Refis ou fingindo que são jogadores…

  4. Boa tarde tricolores!!
    É lógico que o RC não tem experiência como treinador, mas na minha vida aprendi que experiência não é sinônimo de competência, há no mercado diversos treinadores experientes (em fazer porcarias), então se ele escolheu iniciar a carreira em um grande clube deve saber as dificuldades que o espera, existe um ditado que diz que se vc não conhece a sua força e nem a do seu inimigo você está fadado à derrota, mas se você conhece a sua força e força do inimigo a vitória é iminente, é assim que eu vejo o RC ele conhece muito bem o SP mas ainda não conhece a própria força, mas assim que corrigir alguns erros deve se tornar em um grande treinador, só não sabemos quanto demorará, resta-nos saber se teremos tempo, disposição, paciência e saco para esperarmos.
    De qualquer forma ainda acredito no trabalho dele não espero colher frutos este ano, mas o que é um ano a mais? para quem não lembra ficamos 15 anos, de 1991 até 2005 sem ganhar o brasileiro.

  5. Só sei de uma coisa, se tivéssemos tido a oportunidade de ver em campo um ataque formado por Luiz Araújo, Lucas Prato e David Neres, tenho certeza que a situação seria outra!! Só espero que a diretoria do SP regularize logo as dívidas do clube pra não termos q ficar vendendo nossos futuros craques, e contratando os refugos dos outros!!

  6. Admiro RC como grande goleiro que foi, lembro outro que nos tivemos Poy, que torno bom trenador descobridor grandes jogadores que deron grandes alegrias. Pena que RC não teve paciência de queimar etapas, e se ariscar pondo risco a reputacao tanto dele como da diretoria, está deve tomar providências até que tem tempo.

  7. Caro Paulo Pontes:

    Parabéns pelos comentários, pois retratam a nossa triste realidade que está para completar uma década.
    Que as diretorias anteriores e a atual tem grande parcela de culpa por tudo o que está acontecendo não há menor sombra de dúvidas (basta ver o endividamento do clube).
    Quanto ao nosso momento atual temos que ter a frieza necessária para separar o ex-jogador (ídolo incontestável) do treinador inexperiente.
    Vejo muitos comentários sobre a pré temporada na Flórida, mas quem autorizou a contratação e dispensa de jogadores de baciada?
    Tal decisão teria sido uma atitude unilateral do Sr Leco e seus aspones ou o treinador foi consultado?
    Dos jogadores negociados alguns sequer eram aproveitados no time profissional, portanto vai por terra o argumento de desmanche no elenco.
    Gostaria de saber quais foram os critérios para as situações abaixo:
    1) quem liberou todos os laterais esquerdo e teve que recorrer a um jovem que tinha sido contratado para jogar nas categorias de base, improvisou o Buffarini que já é discutível jogando na dele imagina improvisado é por fim concordou com a contratação do Edmar (3a ou 4a opção no Cruzeiro)?
    2) quem aceitou ou concordou com a contratação de jogadores como Neilton, Cícero, Wellington Nem, etc?
    3) quem é o responsável por avaliar e ratificar a contratação do jogador Maicosuel que chegou e praticamente sem treinar com os companheiros atuou 45 minutos iniciais de uma partida para depois sequer ser relacionado para os demais jogos?
    4) qual é o esquema tático e a equipe titular do SPFC hoje?
    5) até quando o treinador fará questão de mostrar que ele ainda é maior protagonista fazendo com que suas atitudes perante os seus comandados fique sob suspeita?
    6) o ex-jogador (agora treinador) tinha muita dificuldade em reconhecer os próprios erros e parece que passado algum tempo a idade e os anos não lhe ensinaram nada?

  8. Ceni não está preparado para o cargo isso é um fato,Leleco o trouxe para agradar os torcedores que o idolatram,pura política Leleco é uma herança maldita do Juvenal.

    Quanto antes esse erro for reparado melhor pois vamos flertar com a serie B novamente.

  9. Na minha opinião essa pressão sobre o técnico é válida, ele até pode querer fechar os olhos aos erros tão óbvios na escalação do time, mas deve saber que ninguém aguenta mais ver Cícero e W. Nem entrarem em qualquer jogo oficial.

    O que faz um técnico forte são os resultados e a coerência, e na falta dela a ousadia, e não a repetição errônea de jogadores e a ausência de um esquema adequado.

    Se Rogério Ceni continuar pensando que faz o quer no time, sem ter que dar satisfação de seus erros, ou continuar insistindo em escalar mal e achando que todos são idiotas, ele não chega como técnico do SPFC na segunda metade do campeonato brasileiro.

    Estamos perto de um momento decisivo, o time mal na tabela, um técnico fragilizado com seu trabalho sendo mostrado de alto risco e negativo, e a necessidade dessas contratações vingarem o mais rápido possível e a fim de evitar sua demissão que antes parecia quase impossível no meio da temporada. O copo está cheio até a metade, alguns acham que vai secar e outros tem a esperança que pode ficar cheio. Aguardemos.

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