Aidar: ‘Vou trazer jogadores para serem titulares. Eu sei fazer isso’

Carlos Miguel Aidar foi presidente do São Paulo de 1984 a 1988. Desde então, o Tricolor conquistou quatro Brasileiros, três Libertadores e três Mundiais. Em outras palavras, o clube do Morumbi cresceu. E Aidar, apesar de admitir ter se afastado do futebol nesse período, garante que não parou no tempo.

– Eu cresci também – disse o candidato ao LANCE!Net, já no fim de aproximadamente uma hora e meia de entrevista na redação do jornal, onde distribuiu sorrisos, cumprimentos e, inclusive, parou para comprar uma bandeira do São Paulo, que de acordo com ele “ficará hasteada em seu barco”.

A seguir, o homem que pretende e confia que sucederá Juvenal Juvêncio fala sobre o fracasso do time em 2013, o que funcionou no clube, Morumbi, o adversário (“mas amigo”) Kalil Rocha Abdalla, Ceni e muito mais…

L!Net: Já que o futebol não foi bem, o que funcionou então?
Vamos começar pela parte social. Nunca o São Paulo teve uma aceitação na parte social como agora. Existem vários fatores, mas há algo fundamental: o índice de inadimplência dos sócios é de 0,2%. Ou seja, o sócio está muito satisfeito com a parte social, porque quem anda por lá vê que o clube está fantástico.

L!Net: E o futebol? Por que errou tanto no ano passado?
Fomos mal, não tem o que falar. São Paulo trocou três técnicos no espaço de 12 meses. Inédito na história. Contratou, na expectativa de trazer jogadores para resolver, e não resolveram. Não dá para ficar desse jeito. Mas não adianta querer trazer a base toda do sub-17 para cima que ela morre. Então, tem de ir colocando para aos poucos ir entrando naquele grupo. Mas tenho a informação, dada pelo Muricy, que dois ou três atletas já começarão a treinar no profissional a partir de 6 de janeiro. Temos uma expectativa, que é o lateral-direito da Portuguesa (Luis Ricardo).

L!Net: O que é pouco ainda para montar um time forte, não?
Acho que o São Paulo tem de contratar jogadores prontos. Precisa de dinheiro? Precisa. Se o São Paulo for se endividar para isso, não será a primeira nem a última vez. Não pode é trazer jogador de R$ 40 milhões e o São Paulo bancando, como o Santos fez, mas não é o Santos que está bancando, é um grupo de empresários. Isso é uma ideia. Formar pools de investidores, dispostos a arriscar um capital na tentativa de trazer um atleta, jogar uma ou duas temporadas, valorizar e depois vendê-lo. Não dá para ficar como está. Está mal.

L!Net: Concorda que o Muricy foi o único acerto do futebol em 2013?
Fiquei muito feliz com a volta do Muricy. Fiquei triste quando ele foi muito criticado e dispensado (em 2009). Ninguém ganha três Brasileiros por acaso. Ninguém. E a permanência no poder por um longo período desgasta, é da vida. Quem fica muito tempo exercendo as coisas, esse exercício do poder fica se esvaindo e acaba perdendo o fio da meada.

L!Net: Você falou sobre jogadores prontos… O que é esse jogador pronto? Qual o perfil?
2014 vai ser um ano muito difícil. O foco vai ser a Seleção e a Copa do Mundo. As atenções voltadas para as arenas, infraestrutura, enfim, tudo aquilo que gira em torno da Copa. A Copa começa em 12 de junho e vai terminar em 13 de julho. Aí tem a ressaca, e vai começar a falar do futebol em agosto. Setembro, outubro, novembro e dezembro. Você terá quatro meses de futebol brasileiro. Em quatro meses, não adianta querer trazer o Ibrahimovic, por exemplo, ou o Messi ou o Neymar, que são contratações impossíveis, exemplificando. Agravado com o fato de o Morumbi fechar por oito meses. Será o pior ano financeiramente para o São Paulo, que está com problema de caixa.

L!Net: Então, por essas dificuldades, reforço de peso só em 2015?
Estou dizendo que será um ano difícil e as contratações que pretendo fazer, se eleito, são para ser titulares. Teremos dificuldades? Sim, mas vamos enfrentar. Se surgir oportunidade de trazer fulano, e todo mundo gosta, que chega para resolver, vamos contratar. Não tenha dúvida que vamos. Fui buscar Falcão na Europa, Careca no Guarani, Raí no Botafogo, nada vai me segurar. Desculpa se é um pouco de pretensão, mas eu já fiz isso. Eu sei fazer isso.

L!Net: Você levantou a possibilidade de criar um pool de investidores para trazer jogadores, e no caso do Falcão em 1985 isso deu certo. Como aplicar isso nos dias de hoje?
Vou fazer do mesmo jeito. Vou chamar uns empresários bem-sucedidos, são-paulinos. Nomes? Não sei se vão topar, mas Abílio Diniz, Paulo Malzoni, Roberto Justus. “Vocês conhecem tanta gente, são amigos de tanta gente rica, vamos botar R$ 1 milhão. Vamos formar um fundo de uns R$ 20 milhões e trazer alguém”. Sentado na cadeira nada acontece, tem de ir para a rua. Nome (certo desses empresários)? Nenhum agora.

L!Net: Falando agora sobre a eleição em si… Vê chance de reconciliação das chapas após abril?
Nenhuma chance. Sei que tem pessoas que gostariam, algumas até se propuseram a falar com o Kalil no meu nome. “Não, o meu nome você não usa”. Óbvio, se ele quiser vir, tenho curiosidade. Respeito o Kalil cidadão, não gosto muito de quem está do lado dele, mas gosto dele, respeito como adversário, trato muito bem e a recíproca é verdadeira. Você nunca vai me ver, daqui até abril, falando mal do Kalil aos radicais. Tem os radicais do lado dele, do meu lado, você não é sozinho. Vai com um grupo te sustentando, te levando. Esse grupo tem de ser consultado pelas lideranças. Na minha opinião, impossível.

L!Net: Achou legítima a ação da oposição na reunião do dia 17 de dezembro, “boicotando” a aprovação do projeto do Morumbi?
Com certeza não. Fiquei muito decepcionado com a postura. Me tornei candidato e todo mundo sabia desse projeto desde 2011. Sabe o que eu fiz? Liguei para cada um dos envolvidos no projeto, que faz dois anos que vem rolando. E foi apresentado várias vezes no Conselho Deliberativo e várias no Conselho Consultivo, este que não aprova nada. Ele não tem competência nenhuma, é um conselho honorífico. A oposição disse que o Consultivo não aprovou, e nem vai aprovar, porque isso não cabe a ele.

L!Net: Concorda com o Juvenal, que pensa em uma mudança no estatuto para “flexibilizar” essa questão do quórum de 75%?
É uma alternativa. Não sei se é a melhor. Esse quórum foi criado na época da disputa eleitoral da construção do Morumbi. Para que não viesse um cara e vendesse o Morumbi. Esse dispositivo do quórum qualificado para instalar uma assembleia, pressupõe que você não pode se desfazer de um bem ou dar em garantia um bem, sem que haja três quartos dos conselheiros presentes. Isso foi lá atrás, na fase da construção. Hoje não se justifica isso. Ainda mais com um conselho em que a faixa etária é muito alta. É difícil reunir essas pessoas. Mesmo que a oposição tenha entrado na reunião, tinham uns 30 deles contados e fotografados. Os 30 deles, com os 140 nossos, eram 170. Quer dizer, quase que o resultado da eleição, 140 a 30, que a gente espera para abril.

L!Net: A logística das obras do Morumbi já está fechada?
O guindaste que será montado lá, para assentar as coberturas, irá para lá em 40 carretas. E é muito mais forte e moderno do que esse que causou problema ao Corinthians. Tem uma carga, uma potência de carga maior. E a estrutura tubular que será posta em cima da Arena suportará até 40 toneladas de peso preso nela. Uma loucura, de arrepiar. Estou apaixonado por essa obra.

L!Net: Você já disse que tem a intenção de incorporar uma mulher à sua diretoria… Amadureceu a ideia?
Essa ideia eu gosto muito. Porque convivi muito com mulheres na OAB. Mas óbvio que eu não posso pegar uma mulher no mercado e por na vice-presidência ou diretoria. Tem de pegar alguém de dentro do São Paulo. Aí é que não sei se vou encontrar o perfil que quero. Porque a mulher ainda paga o preço de ser dona de casa, mãe da família, ainda há certos tabus que tem de vencer. E óbvio, tem de ser conselheira.

L!Net: Como é a sua relação com o Rogério Ceni? Próxima, distante?
É o maior ídolo da história do São Paulo. É o nosso Pelé. Quando houve o movimento do Bom Senso, de possibilidade de greve nas duas últimas rodadas do Brasileiro, eu falei com o Rogério: “Pense bem antes de vocês paralisarem. O movimento de vocês, ao meu ver, está certo. Mas não pare o campeonato, porque se paralisar não vai terminar, não vai ter rebaixamento e não vamos ter 20 times na primeira divisão. Teremos 24”. São coisas interessantes e eu me dou muito bem com ele.

L!Net: Se eleito, vai pedir para ele renovar por mais um ano?
Suponha que, daqui um ano, ele chegue à conclusão de que ainda tenha condição e a gente reconheça. O que vamos fazer? Renovar o contrato. Não dá para pensar, hipótese aleatória. O que temos de concreto é o contrato dele.

L!Net: Vê ele preparado para ter um cargo na sua gestão?
Gostaria e como! A liderança que ele tem, responsabilidade, profissionalismo, competência, observação, ele é meticuloso, detalhista, sério, responsável. Se ele parasse de jogar agora, e não fosse embora do Brasil, ele entraria na chapa e seria o conselheiro mais votado e seria meu vice-presidente. Esse eu anunciaria com antecipação. O único. Vice geral seria ele. E prepararia ele para ele ser presidente daqui a três ou seis anos. Tem tudo para ser, o perfil, o DNA necessário…

Fonte: Lance

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