Aidar renasce no Morumbi após 24 anos e quer tirar clube do passado

Carlos Miguel Aidar era moleque, segundo ele próprio, quando assumiu o São Paulo pela primeira vez, em 1984, aos 37 anos. Três décadas depois, grisalho e sem bigode, o ex-presidente ressurge no cenário político do clube, a fim de tirá-lo do passado. Ainda próximo de conselheiros antigos, mas por muito tempo conhecido apenas de nome (ou sobrenome) pela geração mais recente, o filho do também ex-presidente Henri Couri Aidar precisou dar as caras de novo no clube, do qual andava distante desde que deixou o comando do Conselho Deliberativo, há 24 anos.

“Estava afastado, mas de setembro passado para cá, eu não saio do Morumbi”, disse à GazetaEsportiva.net, em 6 de março, na manhã seguinte à goleada por 4 a 0 sobre o Audax, jogo que o fez fugir de sua característica tranquila. “Quando o São Paulo fez o primeiro gol, eu desabafei, porque o time tinha perdido gol, tinha tido pênalti claro no Luis Fabiano não marcado. Eu estava irritado, e não sou. Eu assisto ao jogo impassível. Por dentro, sei que o sangue está ebulindo, mas externamente mantenho a calma”.

O nome de consenso da situação conversou com a reportagem – entre goles de café e uma ou outra bisbilhotada no inseparável tablet – no prédio em que instalou seu rentável escritório de advocacia, há três anos. Sentado de costas para uma vidraça com vista do 15º andar para a Avenida Paulista, ele fez elogios ao presidente Juvenal Juvêncio, que foi seu diretor de futebol, porém disse ser necessário abandonar o atual modelo de gestão do futebol são-paulino. Um modelo, para ele, que se acomodou com o continuísmo de pessoas comandadas há oito anos também pela mesma pessoa.

Para tirar o São Paulo do passado, além de renovar grande parte da diretoria e se reaproximar dos principais agentes do futebol nacional (Confederação Brasileira de Futebol, Marco Polo Del Nero e demais dirigentes), Aidar promete, caso derrote o oposicionista Kalil Rocha Abdalla, tentar pôr em prática as reivindicações que tem recebido nas andanças pelo Morumbi desde setembro, quando foi escolhido por Juvenal para concorrer à eleição marcada para a segunda quinzena de abril. Andanças que serviram para se familiarizar com associados e conselheiros mais novos.

“Já passei, acredito eu, uma confiança às pessoas que não me conheciam lá dentro. Que sabiam que eu tinha existido, mas (que viram que) de repente não sou ser abstrato, sou um ser concreto. Estou lá, existo (risos). Penso, logo existo. Não é assim?”, disse o candidato, usando famosa expressão do filósofo francês René Descartes, considerado o pai do racionalismo, para brincar sobre seu surpreendente reaparecimento na política são-paulina.

Gazeta Esportiva.net – Não tivesse sido você o escolhido pelo Juvenal, qual dos pré-candidatos você apoiaria? Leco (Carlos Augusto de Barros e Silva, atual primeiro vice-presidente), Julio Casares (vice-presidente de marketing) ou Roberto Natel (vice-presidente social)?
Carlos Miguel Aidar – Quem o Juvenal indicasse. O que eu disse naquela época é o meu pensamento. Quem o Juvenal indicasse, seria meu candidato, fosse qual fosse. Qualquer um dos três ou qualquer outro. Acho que ele é a pessoa que mais conhece o clima político, o cenário político do São Paulo. Então, seria natural. E eu faço parte de um grupo. Quem o líder, que era o Juvenal, indicasse, eu certamente iria apoiar.

Gazeta Esportiva.net – A configuração da sua diretoria, você tem dito que prefere esperar.
Carlos Miguel Aidar – [interrompe] Na verdade, seria até uma temeridade falar em nome agora. Não é o momento, porque se eu falar seu nome agora, eu vou descontentar a ele [aponta para o lado], se eu falar o nome dele, vou descontentar a esse [aponta para o outro lado]… Não é hora de falar em nomes para compor a diretoria.

Gazeta Esportiva.net – Então…
Carlos Miguel Aidar – [interrompe] A única coisa que está certa é a criação da diretoria feminina. Quero também criar uma diretoria de controladoria e gestão. A única pessoa que está certa na diretoria é a Dona Mara Casares, ex-esposa do Julio (Casares), que vai ser a diretora feminina. Já conversei com ela, e ela aceitou o cargo. Vai ser criada a diretoria feminina. E por quê? Temos 6.400 sócios titulares, em números redondos. Desses, 1.300 são mulheres, que têm maridos, filhos, netos como dependentes. Então, é razoável que tenha alguém que represente as mulheres, os interesses das mulheres dentro do clube. Você tem lá o DASP, que é o Departamento de Assistência do São Paulo, composto por mulheres. Mas são voluntárias que fazem trabalhos manuais, em bazares, para venda, cujo produto reverte para comunidades carentes. Mas você não tem uma diretoria com mulheres que vão lutar por lugar melhor no vestiário para o filho pequeno. Essas questões próprias do ser humano feminino. A ideia é nesse sentido.

Gazeta Esportiva.net – O senhor já disse que pretende convidar mulheres para cargos adjuntos também em outras diretorias.
Carlos Miguel Aidar – É natural que, com a estrutura do São Paulo, que hoje tem, entre titulares e dependentes, um número aproximado de 25 mil sócios. Você tem áreas bem distintas. Toda a área de esportes amadores, mas a prática desportiva do sócio. Vôlei, tênis, basquete, futebol de areia, vôlei de areia, futebol social, ginástica, judô, paddle, natação, futebol de salão. Enfim, inúmeras modalidades. E não dá para um cidadão sozinho comandar tudo. Mesmo o futebol, que é o carro-chefe do São Paulo, não dá para um cidadão só cuidar daquilo. Hoje você tem dois centros de treinamento, um usado pelo profissional e outro pela base. Tem a vice-presidência do futebol. Então é natural que tenha diretores e adjuntos para ajudar. Tem uma diretora de piscina no São Paulo, por exemplo. Alguém que cuida única e exclusivamente de assuntos referentes à piscina. Tem que olhar bomba, filtro, ver se o lava-pé está funcionando, se o cidadão não está entrando banhado de óleo, se o piso não está escorregando, verificar o PH da água, o acesso à saída, fazer eventos, ginástica aquática. Ela é diretora titular? Não é. É diretora-adjunta do social. É normal ter diretores. Minha ideia com futebol é realmente dividir: futebol profissional, de base e relações internacionais. Os clubes, de um modo geral, têm essa relação internacional. Alguém que faça o meio-de-campo com outros centros, especialmente na Ásia, que hoje está muito desenvolvida. São providências que imagino necessárias.

Sergio Barzaghi/Gazeta Press

Candidato pretende dar mais espaço às mulheres na diretoria caso seja eleito presidente pela terceira vez

Gazeta Esportiva.net – Não nomear a diretoria, ao mesmo tempo que evita ciúme em potenciais postulantes aos cargos, pode gerar desconfiança, não?
Carlos Miguel Aidar – Acredito que não. Mas tem outro detalhe. É tradição que a diretoria seja anunciada depois da posse. Tem sido assim nos últimos anos, salvo quando a pessoa está indo para a reeleição. Aí ela já vai com sua estrutura, com sua máquina montada. É aquele grupo que vem com ela do primeiro mandato. Tende a ser o mesmo. Mas quando chega novo, como é meu caso, é natural que haja uma mudança de figuras, de personagens.

 

Gazeta Esportiva.net – Antes da campanha, o senhor andava afastado da parte social do clube. Como foi o retorno ao clube?
Carlos Miguel Aidar – Veja… [retira o óculos e limpa os olhos] Eu tive uma atividade, depois que deixei o São Paulo, muito intensa na advocacia. Fui secretário-geral da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil), me candidatei, disputei eleição no Estado todo, ganhei. Substitui o presidente várias vezes em seus impedimentos, licenças, viagens. Depois, me candidatei à sucessão dele à presidência, numa campanha estafante em busca de votos – são dezenas de milhares de advogados votando em uma eleição direta. E era sócio de um escritório de advocacia onde era responsável por toda a área de contencioso cível e direito esportivo. Tinha uma equipe grande comigo, de pessoas de baixo de mim que hoje curiosamente são meus sócios. Eram todos muito jovens, estagiários. Descobrimos que teríamos que sair de lá e montar um novo escritório, porque a gente queria desenvolver algo com nosso jeito de ser, valorizando o ser humano. Sempre valorizei muito as pessoas. Então, abrimos esse escritório aqui. No dia 1º de abril, não é mentira, vai fazer três anos que fundei o escritório. Sou o decano, tenho, assim como os demais sócios, todos meus estagiários, uma mesma retirada mensal. Só que tenho um adicional de naming rights, como está na moda falar. Estruturei este escritório. Saí de lá com 70 pessoas. Tenho hoje 260 funcionários. Saíram 31 advogados comigo. Hoje tenho 136 advogados. É uma empresa isso aqui. Estava em uma posição de imenso conforto aqui.

Gazeta Esportiva.net – O que o afastou do São Paulo.
Carlos Miguel Aidar – Eu não tinha tempo para cuidar do São Paulo, para frequentar o São Paulo. Ia a jogos no Morumbi, mas não viajava mais com o time. Ia a reuniões do Conselho, aquelas que eram importantes, para votar, para discutir temas. Às vezes, até o Juvenal pedia ‘olha, tem uma reunião, me parece que será polêmica, vem cá’. Eu ia lá. E eu sou consultor da presidência. Além disso, defendo as questões mais polêmicas do São Paulo. Nos shows musicais em que o Ministério Público queria fechar o Morumbi, sou eu que seguro o Morumbi aberto. O tal do terceiro mandato (do Juvenal) lá que se fala. Naquela oportunidade, não tinha alguém que fosse concorrer na época, eu é que fui fazer essa coisa. Então, eu estava realmente… Eu estava afastado? Eu estava afastado, mas de setembro passado para cá, eu não saio do Morumbi, até porque conversei com meus sócios aqui e falei que só seria candidato se eles me assegurassem a mesma retirada que tiro enquanto aqui fisicamente. Eles se reuniram e disseram ‘para nós, é bom, nós queremos etc’. Então, fechado. Tenho aqui vindo de manhã, agora, na campanha. Na hora do almoço, retorno para o clube e fico em campanha. Tenho reunião com você, reuniões com colegas seus. Reuniões com grupos políticos, com pessoas, análises de situações, análises de projetos, desenhando alguma coisa na cabeça, evoluindo alguma coisa, montando essa plataforma, cuidando de detalhes da eleição, de publicações, de listas, disponibilidade, acertos de nomes que vão concorrer. Enfim, situações que a gente vai criando. Hoje, eu ando no clube como ando na minha casa, ando absolutamente à vontade. Transito com as pessoas absolutamente à vontade. Já passei, acredito eu, uma confiança às pessoas que não me conheciam lá dentro, que sabiam que eu tinha existido, mas de repente não sou ser abstrato, sou um ser concreto. Estou lá, existo (risos). Penso, logo existo. Não é assim?

 

Acervo/Gazeta Press

Ex-presidente são-paulino esteve afastado do clube nos últimos anos para se dedicar exclusivamente à advocacia

Gazeta Esportiva.net – Como era sua rotina diária antes de se candidatar?
Carlos Miguel Aidar – Eu passava o dia no escritório, viajava muito à Brasília para defender questões na Justiça Comum. Também a CBF, sou eu que faço pessoalmente sua defesa. Coisas mais relevantes. Na rotina do dia a dia, tenho uma equipe maravilhosa.

 

Gazeta Esportiva.net – Lembro de ter falado contigo ao telefone logo cedo, um dia desses, e de o senhor dizer que acordava cedo.
Carlos Miguel Aidar – [interrompe] No mais tardar, acordo seis, seis e meia da manhã. Eu faço – fazia – ginástica três vezes por semana. Tive uma lesão entre a quarta e quinta vértebra, num deslizamento, há uns três meses. Estou fazendo fisioterapia, reduzi de três para duas sessões e vou voltar a fazer agora. Não parei.

Gazeta Esportiva.net – E, se for eleito presidente, sua rotina vai mudar muito? Vai continuar vindo ao escritório?
Carlos Miguel Aidar – Minha ideia é vir de manhã, quando for preciso minha presença, senão vou direto ao clube, fico lá direto. No São Paulo, não dá mais para você ter outra atividade paralela permanente. O São Paulo está muito grande. O que me causa muita estranheza na candidatura do Kalil, porque ele quer ser presidente da Santa Casa e do São Paulo. Não dá para conciliar, é impossível. É impossível conciliar duas entidades desse porte, com certeza. Ele foi posto nesta aventura. Na verdade, o candidato era o Marco Aurélio (Cunha, ex-superintendente do clube e vereador municipal). Ele entrou para dar respaldo, porque o Marco Aurélio não conseguiu decolar. Mas não dá. Você vê pelo tipo de problemas, reuniões, televisão, imprensa… A imprensa que conheci lá atrás é completamente diferente de hoje. Você falava só com duas televisões, três jornais e três rádios. Hoje são sites, blogs, televisões, rádios. Tudo multiplicado várias vezes.

CONHEÇA AS PROPOSTAS DE AIDAR CLICANDO NA IMAGEM ABAIXO

Gazeta Esportiva.net – Nas idas ao Morumbi, qual tem sido o clamor principal do sócio e também do torcedor de futebol?
Carlos Miguel Aidar – Do torcedor, é fácil. O torcedor quer ver o time campeão, um time competitivo. O time está começando a dar mostras de uma melhoria. Escapou do rebaixamento no ano passado, em um trabalho fundamental do Muricy (Ramalho, treinador), não tenho dúvida disso. Na verdade, foram alguns fatores. A chegada do Muricy e uma mudança do comando interno do futebol. A gente tinha lá o polêmico Adalberto (Baptista, ex-diretor de futebol), que nem candidato será. E a vinda do Muricy. O São Paulo saiu daquela zona horrorosa e agora está estruturando um time. Um time que acho que pode ser melhorado ainda.

Gazeta Esportiva.net – O que você quer fazer no futebol?
Carlos Miguel Aidar – No futebol, é fundamental voltar a ter um time campeão. Quero título. O são-paulino ficou mal acostumado, e perdemos um pouco esse viés. É reforçando a equipe, contratando jogadores que venham para ser solução, e não meia-boca. Aliás, o Muricy fala isso. Quero jogador craque, quem chega e toma conta da posição. Como o Souza (volante) e o lateral esquerdo uruguaio (Álvaro Pereira). Quero jogadores com esse perfil, que venham para realmente entrar no time e falar ‘esse lugar é meu, daqui ninguém me tira’.

Gazeta Esportiva.net – E quanto aos sócios?
Carlos Miguel Aidar – Os sócios têm reivindicações. A grande reivindicação chama-se segurança. Você só vai proporcionar segurança ao sócio se fizer o estacionamento. Agora, por exemplo, caiu uma água danada no meio da tarde e inundou 20 carros parcialmente. Sujeito vai para dentro do clube e se esquece daquela volúpia de água. Temos dois vereadores no São Paulo, e nenhum se mexe em fazer o piscinão, a área de contenção de água. Então, o São Paulo escorou o estádio, fez muros de arrimos fantásticos para conter a água. O sistema resistiu, não inundou nada lá dentro, mas os carros da rua ficaram danificados. A reivindicação do sócio é segurança. E só tem um jeito de dar segurança: fazendo o estacionamento. Meu empenho em fazer o estacionamento, a arena de show e a cobertura vai ser total. Vai ser prioritário no aspecto social do clube.

Gazeta Esportiva.net – O nome da chapa (Avança São Paulo) passa a impressão de continuidade, mas também de que há espaço para melhorias, para mudanças. O que precisa ser melhorado?
Carlos Miguel Aidar – O primeiro item da plataforma de trabalho é, olha aqui [aponta para o papel da campanha], “contratar uma instituição de credibilidade para diagnóstico, avaliação e implementação de modelo de gestão”. Acontece o seguinte: o São Paulo tem um modelo de gestão que eu não vou dizer que seja ultrapassado, mas um modelo acomodado, porque são 12 anos de exercício do poder do mesmo grupo político. São quatro anos do Marcelo Portugal Gouvêa, com dois mandatos de dois anos, depois um mandato de dois anos e dois de três anos do Juvenal. E as pessoas são as mesmas. Então, é natural que haja acomodação. Só tem um jeito de mudar isso, e é através de um choque de gestão. Quando falo em instituição de credibilidade, estou falando de uma McKinsey, de um Instituto Áquila, de uma FGV (Fundação Getúlio Vargas), por exemplo. Eles chegam com as especialidades deles, diagnosticam tudo o que vêem, entrevistam um por um as pessoas e trazem uma proposta para a gente. Aí a diretoria decide implementar através deles – ou com recursos próprios, isso a gente vê depois. Isso é importante. É importante porque, tendo uma base sólida de gestão, você tem mais tempo para se dedicar de um lado à política do futebol, de outro à política social do clube.

Gazeta Esportiva.net – Enquanto outras pessoas competentes cuidam das outras demandas.
Carlos Miguel Aidar – Você tem que ter personagens, conselheiros e não conselheiros, que disponham de tempo. Não dá mais para diretor ficar até seis da tarde na sua empresa e depois ir para o clube. O clube, eu e qualquer pessoa de bom senso não podem aceitar. Tem que ter disponibilidade de tempo. Para isso, ele minimamente precisa ter autonomia financeira, senão não consegue. Não quero gerente saindo de dentro do clube para despachar, como lamentavelmente o Kalil fazia. Como gerente jurídico, ele saía do clube para despachar na Santa Casa. O diretor jurídico tem que estar dentro do São Paulo, por exemplo. Diretor de marketing tem que estar dentro do São Paulo, diretor social tem que estar frequentando o São Paulo. Não adianta querer governar por telefone, não governa. Minha ideia é, fechada a eleição, consultar os conselheiros. Um: você quer trabalhar para o São Paulo? Dois: você tem disponibilidade de tempo? Três: que disponibilidade você pode doar ao São Paulo? O cara que só pode trabalhar de noite não serve. É muito bom, um belo companheiro, seu amigo, mas não serve. Têm que ser pessoas dispostas a dedicar parcela significativa de seu tempo em benefício do clube, na medida em que ninguém é remunerado lá dentro. Não há dirigente conselheiro remunerado, apenas funcionários e gerentes.

Acervo/Gazeta Press

Juvenal Juvêncio, hoje presidente, foi diretor de futebol na gestão de Carlos Miguel Aidar, na década de 1980

Gazeta Esportiva.net – Qual maior legado que o senhor deixou nos dois mandatos como presidente do São Paulo (1984/1986 e 1986/1988)?
Carlos Miguel Aidar – Ah, o CT da Barra Funda, o comando do futebol brasileiro, o Clube dos 13, e na parte social, pouca gente sabe, mas quem criou a Olimpíada do Vermelho, Branco e Preto (semana de disputa e confraternização entre sócios do clube) fui eu. Quem criou o Centro de Orientação Esportiva fui eu. Isso, para o sócio, é importante. Fui eu que fiz tudo isso.

 

Gazeta Esportiva.net – Qual era seu perfil como dirigente, na década de 1980?
Carlos Miguel Aidar – Desculpe, não entendi.

Gazeta Esportiva.net – Todos dizem que o Juvenal Juvêncio tem um perfil centralizador, por exemplo.
Carlos Miguel Aidar – Ah, não. Eu delego. Eu sempre fui assim. Aqui no escritório também. Vou dar um exemplo da empresa que comando hoje. Meu diretor de gestão de pessoas tem 32 anos. Meu diretor financeiro acabou de fazer 32 anos. O managing partner, meu chefe, tem 39 anos. Os três foram meus estagiários, começaram a trabalhar comigo como estudantes de Direito. O meu sócio mais velho – tenho dois – tem 42 anos. O resto é tudo para baixo de 40 anos. Eu delego muito. Eu delego, mas cobro, vejo o que está sendo feito. Cobro resultados. Trabalho com plano de metas. Você faz o diagnóstico, traça o perfil, fecha o orçamento e executa. Se eu disponibilizar uma verba de um milhão na parte social, sei que vou dar esse dinheiro ao longo do ano. Se você gastar esse dinheiro no primeiro mês, vai ficar chupando o dedo nos 11 meses seguintes. Não vai ter essa coisa de improvisação. Isso não é comigo. Sou bastante metódico e planejador. Infelizmente, para os adversários, é por isso que sempre dei certo. No São Paulo, na OAB, aqui no escritório. Eu não improviso.

Gazeta Esportiva.net – E no futebol você vai ser mais racional ou mais passional, torcedor?
Carlos Miguel Aidar – Torcedor, todos nós somos, mas eu sei separar. Acho que eu sei separar a emoção da razão. Futebol é emoção pura. Quando você age com emoção, comete erros incríveis, porque a razão deixa de prevalecer e você acaba sendo levado pelo coração. Até vou dar um exemplo. Há muitos, muitos anos, o São Paulo jogava com dois centroavantes e precisava de um empate ou da vitória. Durante 90 minutos, pressionou o Flamengo, no Maracanã, e um dos centroavantes, inúmeras vezes, teve condição de dar a bola para o outro, que estava livre, e não dava. Ele tentava se desvencilhar porque não se dava bem com o outro, não tinha afinidade. Perdeu inúmeras oportunidades de dar o passe ao outro, que estava em melhor condição de concluir. No último minuto do jogo, houve o inverso. O cara que não tinha dado passes antes berrava, a gente via lá da arquibancada ele gesticulando, e o outro não deu a bola. Terminou o jogo, São Paulo desclassificado. Na virada do túnel do vestiário, ele ficou esperando o companheiro e deu-lhe um chute na boca do estômago. A pressão do cara foi a seis, quase morreu. Ninguém sabe dessa história e, me desculpe, não vou te dar os nomes, porque os personagens são todos vivos ainda. Eu dizia ao presidente da época: “Manda embora esse safado, filho da puta”. Ele me pedia calma, porque eu estava agindo sob raiva, pura emoção.

Acervo/Gazeta Press

Campeão paulista de 1985, ex-presidente são-paulino entende ser “um cara passional, emotivo, mas controlado”

Gazeta Esportiva.net – O senhor já tinha sido presidente?
Carlos Miguel Aidar – Não, eu nem dirigente era, mas era torcedor que acompanhava o São Paulo. Posteriormente, dois ou três dias depois, encontrei esse presidente e cobrei. “E aí, e aí?”. Ele falou: “Aprenda uma coisa, meu filho. Nunca aja sob emoção. As decisões com emoção nunca são as melhores. Você deixa de agir com razão”. O que ele fez? Ele preservou aquele atleta, que virou um grande jogador no São Paulo, foi para a Seleção Brasileira, é amado até hoje no São Paulo, e eu queria que ele fosse mandado embora porque chutou o estômago do companheiro. Então, eu sou um cara muito frio para tomar decisão. Mas sou torcedor, eu vibro, eu grito. Ontem (5 de março, quarta-feira, dia da vitória por 4 a 0 sobre o Audax, no Morumbi), quando o São Paulo fez o primeiro gol, eu desabafei, porque o time tinha perdido gol, tinha tido pênalti claro no Luis Fabiano não marcado. Eu estava irritado, e não sou. Eu assisto ao jogo impassível. Por dentro, sei que o sangue está ebulindo, mas externamente mantenho a calma. Quando o São Paulo fez o gol, comecei a vibrar sozinho, porque estava extravasando um sentimento. Sou um cara passional, emotivo, mas controlado.

 

Gazeta Esportiva.net – Você vê isso nos dirigentes de hoje?
Carlos Miguel Aidar – Não. Dirigente é tudo maluco, tudo irresponsável. Se tivesse um pouco de juízo, se uniam todos e fariam um futebol muito mais forte. Foi o que eu tentei fazer lá atrás, com o Clube dos 13. Vou tentar de novo.

Gazeta Esportiva.net – O Juvenal é assim também? Ele extrapola um pouco?
Carlos Miguel Aidar – Todos são, todos são. Mas o Juvenal ainda tem esse viés de não se deixar levar pela emoção. Acho até que ele aprendeu comigo. Eu que lancei Juvenal, eu que lancei o Leco, o Kalil. Quem mais? Marcelo Portugal! Todos, crias minhas. Embora todos sejam mais velhos do que eu, foram crias minhas. Fui um presidente muito moleque. Tinha 37 anos de idade.

Gazeta Esportiva.net – Como pretende se relacionar com os clubes rivais?
Carlos Miguel Aidar – Minha ideia é me apresentar a todos eles. “Olha, sou eu, cheguei, estou aqui na presidência, quero trocar ideias com vocês, saber o que pensam sobre o futebol brasileiro e estabelecer um projeto de marketing diferente”. Acho que a gente poderia valorizar mais o produto futebol. Quero criar dois marketings distintos. Um externo, voltado para o futebol, com o torcedor como público-alvo. E outro interno, para o sócio, para o atendimento dos eventos sociais. É muito difícil ter um diretor de marketing querendo conjugar as duas coisas. Mas quero me reunir com presidentes dos outros clubes e estabelecer relações que possam fazer uma aproximação maior. Nada de grupo dos quatro, até porque não tem nem data para se fazer uma liga neste momento. Mas talvez buscar uma redução de número de clubes em campeonatos regionais para ter mais datas para amistosos internacionais. Imaginou trazer um Barcelona para jogar no Morumbi? Um Real Madrid… Mas não tem data para isso. Essa é minha ideia.

Gazeta Esportiva.net – Qual sua primeira medida como presidente?
Carlos Miguel Aidar – [pensa alguns segundos] Bom, é óbvia: tenho que constituir a diretoria nos primeiros 30 dias. Colher orçamentos dessas empresas de gestão, de administração, fazer a opção por uma, contratar essa empresa para o projeto de diagnóstico. Fazer a implementação disso.

Gazeta Esportiva.net – Se for eleito, vão faltar poucos dias para a Copa. É possível explorá-la?
Carlos Miguel Aidar – Eu já estou explorando isso. O Brasil não está jogando de graça no Morumbi (em amistoso contra a Sérvia), no dia 6 de junho. Não é de graça. Teve duas razões primordiais para isso. O fato de eu ter insistido para o Juvenal ser o primeiro a assinar a lista de apoio ao Marco Polo (Del Nero, presidente da FPF e candidato à presidência da CBF). E, segundo, ser advogado da CBF. Não fossem esses dois fatores, o Brasil estaria jogando em outro lugar o último amistoso antes da Copa. Eu não tenho dúvida de que minha postura política colaborou para isso. Não sou o único responsável por isso e nem quero ser, mas, sem dúvida nenhuma, ajudou minha participação política, minha condição de candidato, minha aproximação com a FPF e a CBF, com o Comitê Paralímpico Brasileiro e Internacional…

Acervo/Gazeta Press

Ex-presidente da FPF e atual da CBF, José Maria Marin é são-paulino assumido e velho conhecido de Aidar

Gazeta Esportiva.net – Como presidente do São Paulo, pretende continuar advogando para a CBF?
Carlos Miguel Aidar  – Olha, enquanto não for a Portuguesa parte diretamente, vou advogar. Não há impedimento algum. Quando for a Portuguesa, vou ter que pensar o que vou fazer. Se saio fora e o escritório fica ou se o escritório também sai. É algo para se desenvolver quando for acontecer. Por enquanto, a Portuguesa não foi à Justiça Comum, ainda não parei para pensar.

 

Nota da redação: Pela escalação irregular do jogador Heverton na última rodada do Campeonato Brasileiro de 2013, a Portuguesa perdeu pontos, de acordo com decisão do Superior Tribunal de Justiça Desportiva, e foi rebaixada à segunda divisão. O escritório Aidar SBZ Advogados foi contratado pela CBF diante das medidas judiciais de terceiros que questionam o resultado da competição.

Gazeta Esportiva.net – Como é sua relação com Marco Polo Del Nero?
Carlos Miguel Aidar – É ótima. Sou advogado da FPF há alguns anos, já advoguei em várias questões para eles. Inclusive, sou o advogado do caso da Máfia do Apito. Quem advoga para a CBF, neste caso, é outro escritório, e o meu advoga para a FPF. E sou advogado da CBF no episódio da CBF no caso da Portuguesa. Não vejo nenhum inconveniente em continuar advogando. Minha proximidade com Marco Polo e com o Marin (José Maria Marin, atual presidente da CBF) não traz nenhum impedimento (ao exercício do cargo de presidente do São Paulo). Até porque se amanhã eu tiver que reivindicar alguma coisa para o São Paulo junto à FPF ou à CBF, vou do mesmo jeito. Acho até que a porta vai ser aberta para mim com muito mais facilidade do que se eu fosse um estranho. Eu gosto dos dois.

Gazeta Esportiva.net – O Juvenal diz que está em contato direto contigo sempre. Como ele está a poucas semanas do final da gestão?
Carlos Miguel Aidar – Ele está motivadíssimo, num pique danado. Na terça-feira de Carnaval, fizemos um trio elétrico dentro do São Paulo. Sabe esses carrinhos de recolher lixo? O São Paulo tem um de lixo, de maca, de transporte interno. Nós pegamos um. Aliás, estava à disposição da oposição, se ela quisesse. Acontece que não tinha ninguém da oposição lá, só a gente. Nós fizemos trio elétrico, enchemos o carrinho de coisas amarelas e ficamos cantando o hino, tocando. O Juvenal na frente! Capitaneando! Foi uma beleza. Ele está motivadíssimo.

Gazeta Esportiva.net – E o senhor? Como se sente a poucas semanas da eleição?
Carlos Miguel Aidar – Estou a mil por hora. Desculpe a falsa modéstia, mas o pessoal comenta que é impressionante a diferença do comportamento do Carlos Miguel com o dos opositores. Vou ao clube todo dia, mergulho na piscina, eu visto a camisa, vou ao baile de Carnaval, almoço no clube. Sento com um, com outro. Estou lá o dia inteiro.

 

Fonte: Gazeta Esportiva

4 comentários em “Aidar renasce no Morumbi após 24 anos e quer tirar clube do passado

  1. Foi um ótimo presidente mesmo quando mais novo, onde o clube ganhou titulos, e com certeza agora, com todas suas ideias de inovação para o clube, com a gestão, reforma do estádio, será ainda melhor. Não há duvidas de que a melhor escolha é ele. Ele sabe como comandar nosso clube pra ele ficar na sua melhor forma e sempre ganhando os campeonatos e ficando no topo onde sempre esteve.

  2. É gritante a diferença de competência do Aidar perante o Abdalla !!
    Não sou sócio do clube, mas torcedor do SPFC há pelo menos uns 40 anos.
    O Aidar será muito melhor para o clube do que o outro.

  3. Vai comecar entregando a bolinhas pro rival da globo do rio.
    E nossa por direito, nao importa o que tenha feito paralelo,
    fomos os primeiros penta juridicamente falando, no campo,
    nao fosse assim o clube da globa ja o teria levado ha tempos,
    e nao o levou.
    Entrega-lo seria como concordar com sacanagens politiqueiras.

Deixe um comentário para Boris Eduardo Cancelar resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

*